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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Bestiário Norte-Americano - Parte 2 de 2

Paul Bunyan. Desenho liberado no domínio público.

Dando continuidade às listas de criaturas sul-americanas e africanas, aqui vai a próxima: uma lista baseada nos folclores, indígenas ou não, da América do Norte.

Adendo: eu evitei colocar lendas urbanas que surgiram ou se espalharam com a internet, como por exemplo o Chupacabra. Imaginei que elas seriam populares o suficiente. O meu foco é descobrir o que é pouco conhecido.

Parte um aqui.

41) Mishepishu (Folclore Ojibway e Cree) - Uma criatura que vive em uma caverna submarina nos Grandes Lagos entre os Estados Unidos e Canadá. Cabeça de lince, corpo escamoso de serpente marinha, chifres de cobre e espinhos dorsais que simbolizam o seu poder. Viajantes podem oferecer tabaco para que Mishepishu não crie tempestades com o rabo e afunde os seus barcos.


42) Mosca Grande (Mitologia Navajo)
- Uma mosca que serviu a muitos herois Navajos. Ela ficava no ombro dos mesmos, alertando-os de perigos e guiando-os ao objetivo.


43) Mulher Camundongo (Folclore Haida) - Ela é um espírito pertencente a um grupo chamado Narnauks, os animais-pessoas. A Mulher Camundongo costuma surgir na forma de uma pequena avó que se esforça em manter o mundo organizado. Ela detesta quem cria problemas, como caçadores que matam mais do que eles vão comer, ou quem não se comporta como deve. A Mulher pode surgir para disciplinar e enganar quem faz coisas assim.


44) Mulher com o Rabo de Ferro (Folclore Inuíte) - Uma mulher canibal que usava um rabo metálico pontudo para furar as suas vítimas, pulando na direção das mesmas. As palavras que ela pronuncia também tem alguma espécie de poder, mas a natureza e extensão desse poder não fica clara.


45) Mulher-Aranha (Folclore Pawnee) - Existem muitas histórias sobre ela, retratando-a como um ser bondoso que ajuda e aconselha quem passa por necessidades. Mas em uma história dos Pawnee, ela é uma criatura que devora seres humanos. A mesma história também conta que a Mulher-Aranha e as suas filhas viviam em uma cabana com uma horta. Quem quisesse pegar algo da horta precisaria jogar dados com ela. Mas durante o jogo, a Mulher-Aranha invocaria nevascas para congelar o jogador até a morte. Então o crânio dessa pessoa seria pendurado nas paredes da cabana. A Mulher-Aranha também servia carne humana envenenada a visitantes. As suas vítimas poderiam contar com a ajuda das filhas dela, até certo ponto.


46) Nalusa Falaya (Folclore Choctaw) - Humanóides do tamanho de um ser humano, com rostos enrugados, olhos minúsculos, narizes longos e orelhas pontudas. As suas vozes se parecem com as de pessoas, e eles as usam para chamar caçadores durante o crepúsculo. Quem os ouvir fica inconsciente. O Nalusi então enfeitiça o caçador através de um espinho inserido na mão ou no pé, fazendo com que o mesmo aja de forma maligna.


47) Nekedzaltara (Folclore Athabaskan) - Este parece ser um tipo de espírito da natureza. Nekedzaltaras existem em muitas formas terríveis, tanto visíveis quanto invisíveis. Talvez "demônio" seja uma palavra mais apropriada, já que eles são servos de Tena-ranide, a personificação da morte. Apesar da variedade de formas, encontrei apenas uma descrição, em uma história sobre um homem que escapa de um monstro aquático comparado a uma baleia por quem documentou essa história. A boca do monstro é confundida com uma caverna, cujas profundezas, a garganta da criatura, são inundadas com água fervente. Esse Nekedzaltara também possui dentes enormes e diversos apêndices semelhantes a cordas que lhe servem como tentáculos. Este último detalhe me fez pensar que a criatura talvez fosse mais parecida com um esturjão do que uma baleia, que é um tipo de peixe com um bigode como o da carpa, existente na região dos Athaabaskans. Para quem concorda com essa interpretação, alguns detalhes do esturjão: é um peixe sem escamas, coberto por diversas placas ósseas; existem espécies de água doce e de água salgada; ele chega a atingir sete metros de comprimento e mais de uma tonelada; esturjões, assim como tubarões, podem sentir campos elétricos, usando esta eletropercepção para localizar a presa e migrar. E ele é a fonte do famoso caviar.


48) Nunnehi (Folclore Cherokee) - O nome significa "Os Imortais". Eles vivem sob as águas e sob as montanhas. São invisíveis e imortais. Estes seres possuem poderes diversos, como, de alguma forma, carregar toda uma aldeia e a colina abaixo da mesma. Existe pelo menos uma história em que eles convidam uma tribo a viver com eles, pois previram o futuro e viram que os homens brancos trariam tragédias e guerras. Outra história conta que eles defenderam uma tribo cherokee de uma tribo estrangeira, surgindo como um grupo de centenas de guerreiros pintados de dentro de uma colina. Esse grupo ficou invisível quando se afastou dessa colina, parecendo como um enxame de machados e flechas se movendo por conta própria. Os inimigos tentaram se esconder atrás de pedras e árvores, mas as flechas faziam curvas e os atingiam de qualquer forma. Algumas pessoas comparam os Nunnehi às fadas européias.


49) Ohdowas (Folclore Iroquoi)
- Um povo anão subterrâneo. Pequenos, resistentes e corajosos. Eles vivem em um mundo escuro com as suas próprias florestas e planícies, cheias de animais perigosos e venenosos que desejam escapar para a superfície. Os Ohdowas os impedem de invadir o mundo iluminado pelo sol.


50) Oniate (Folclore Iroquoi) - Também chamado de "Dedos Secos". Um espírito vingativo na forma de um braço mumificado que pune quem quem se comporta mal.


51) Oshadagea (Folclore Iroquoi) - Uma águia tão gigantesca que carrega um lago de orvalho em uma cavidade nas costas. Quando os espíritos de fogo destroem as matas, ela voa, orvalho gotejando das asas e curando as plantas.


52) Panabe (Folclore Algonquino) - A tradução literal da palavra é "quase-homem" ou "pseudohomem". Ela se refere a um tipo de ser metade homem, metade peixe.


53) Pássaro do Trovão (Diversos Folclores) - Este animal fantástico pode ser encontrado nas lendas de muitas regiões e povos indígenas norte-americanos. Em um mito dos Lakotas, ele é o mensageiro do deus que criou o mundo. Chamado Wakinyan, ele tem asas poderosas, um bico enorme, dentes afiados, garras e relâmpagos saindo dos olhos, embora um ornamento que eu vi mostre os relâmpagos surgindo de um "coração" ou "núcleo" no peito. O som de sua voz era o trovão. Em alguns mitos, existem muitos Pássaros do Trovão, incluindo filhotes em ninhos. Outros mitos contam que o Pássaro consegue se transformar em um ser humano.


54) Paul Bunyan (Folclore dos Estados Unidos e Canadá) - Um gigante lenhador originário das tradições orais de lenhadores norte-americanos. Existem muitas histórias em diversas mídias sobre ele: musicais, contos, filmes etc. O seu tamanho, proezas e habilidades variam muito, mas ele é sempre gigante, forte e um lenhador habilidoso. Por exemplo, uma das histórias originais lhe dá "apenas" mais de dois metros de altura; já no desenho animado dos anos sessenta ele tem proporções colossais, rebate bolas de canhão como se fossem bolas de beisebol e afunda navios piratas.


55) Pecos Bill (Folclore dos Estados Unidos) - Uma figura folclórica que simboliza o cowboy. Existem muitas histórias sobre ele. Por exemplo, ele é descrito como meio-homem, meio-coiote, por causa de que foi criado por coiotes no Velho Oeste após ter caído da carroça de sua família humana. Ele é capaz de formar amizades com outro animais, o que talvez o ajude a realizar proezas como cavalgar pumas e usar cobras como cordas. Ele também teria inventado o revólver e o processo de conduzir manadas de gado de um lugar a outro.


56) Peixe Grande de Iliamna (Folclore Dena'ina) - Um grande peixe monstruoso com poderes sobrenaturais. A sua mordida causa buracos nos cascos de barcos.


57) Piasa (Folclore dos Estados Unidos)
- Uma criatura mítica com o corpo de uma pantera, o rosto de um homem, um longo rabo de ponta bifurcada, chifres, garras de águia e asas. A lenda original foi dita como sendo de origem indígena, mas na verdade foi uma ficção escrita por John Russell, um escritor de romances e aventuras.


58) Povo das Nuvens (Folclore Zuni) - Espíritos da tempestade que trazem chuvas e fertilizam a terra. Pessoas que tem boas vidas, após morrerem, se tornam parte do Povo das Nuvens. Para garantir que o Povo traga chuva, eles devem ser lembrados e honrados pelos vivos. Ofendê-los causa secas.


59) Pukwudgies (Folclore Algonquino) - Estes são pessoas pequeninas que vivem em terras altas rochosas, cavernas e ravinas, assim como lagos, baías e rios próximos a pinheiros. O nome significa "pequeno homem selvagem das matas". Existem florestas em Massachusetts onde pessoas ainda dizem ver pequenos trolls cinzas ou serem levadas às profundezas do mato por esferas flutuantes e brilhantes.


60) Qallupilluk (Folclore Inuíte) - Seres humanoides feios, de pele escamosa e enrugada, que vivem nas águas geladas do Ártico. Eles usam bolsas nas costas para carregar as crianças que sequestram. Mas não se sabe porque pegam crianças. Será que é para devorá-las? Ou eles gostam de brincar com elas? Seja como for, eles são furtivos, esperando submersos. Preste atenção quando o mar formar ondas subitamente ou vapor escapar da água: são sinais de que pode haver um Qallukpilluk por perto.


61) Sapiya (Folclore dos Creeks e Seminoles) - Pedras mágicas que se reproduzem e se movem sozinhas, pulando que nem sapos. Elas existem nas cores vermelho, azul e amarelo. Aquele que possuir uma destas pedras adquire habilidades ou boa sorte em questões de amor, guerra e na caçada. Para manter a posse de uma pedra, deve-se controlá-la com canções e certos procedimentos. A pedra também precisa ser alimentada com orvalho e sangue de esquilo. Caso o usuário não satisfaça estas condições, a Sapiya se volta contra ele.


62) Serpente Aquática Chifruda (Folclore Sioux, entre outros) - Muitas tribos tem lendas sobre estas criaturas. Às vezes elas são boas, outras vezes elas são más. Vivem em grandes lagos e nascentes. Os chifres são parecidos com os de um veado, possuindo poderes mágicos. Algumas das lendas dizem que caçadores moem esses chifres para obter pós encantados que garantem uma boa caça. Algumas versões da Serpente tem um chifre azul e um vermelho. Serpentes são amigáveis com aqueles que vivem em harmonia com a natureza, trazendo chuvas, fertilidade e vida longa.


63) Serpente do Niágara (Folclore Seneca) - Ela não tem um nome próprio, mas eu a chamei assim porque a sua história envolve as famosas cataratas. Essa serpente vivia embaixo da terra e gostava de devorar seres humanos. Mas a quantidade de humanos que morreram por causas naturais não era suficiente para satisfazê-la, então ela usava o seu veneno para envenenar as fontes de água de uma comunidade indígena, causando doenças e morte constante. A comunidade eventualmente descobriu isso e mudou de lugar, mas a serpente era astuta e seguiu atrás. Hi-nu, deus das nuvens e da chuva, interviu, disparando um relâmpago contra ela. Isso apenas a feriu. O deus precisou disparar mais três raios até conseguir matá-la. Quando os indígenas viram o seu corpo, constataram que a serpente era mais longa do que "vinte vôos de flecha", ou seja, vinte vezes a distância que uma flecha percorre antes de atingir o chão. Esse cadáver foi posto de alguma forma a flutuar pelo rio Niágara até encalhar em algumas rochas e se tornar uma espécie de represa, acumulando tanta água e carne morta que eventualmente as rochas foram quebradas pelo peso. Esse evento criou a forma de ferradura das Cataratas do Niágara.


64) Skadegamutc (Folclore Abenaki) - O fantasma de uma bruxa que se recusa a permancer morta. Ela ressurge à noite como uma esfera de luz flutuante ou em uma forma humanoide indefinida, que lança maldições, mata e devora humanos. A única maneira de matá-la para sempre é queimando o corpo.


65) Snallygaster (Folclore dos Estados Unidos) - Um grande monstro quadrúpede e com asas enormes, capaz de carregar pessoas enquanto voa. Usando um bico pontudo como uma agulha, ele suga todo o sangue da vítima. Cada uma das quatro patas têm garras que mais parecem ganchos de aço. A cabeça tem um único olho na testa. O seu berro lembra o assobio de uma locomotiva. Uma testemunha adiciona um rabo longo e grosso, outra disse que o pescoço é longo e elástico, já uma terceira acrescenta chifres. Como se não bastasse, o couro ricocheteia balas como se fosse uma placa de ferro. Pode-se dizer que o Snallygaster equivale a um dragão europeu, mas houve quem o considerou um demônio ou diabo. Inclusive, ele supostamente bota ovos, grandes como um barril, de uma casca dura, amarelada e com a textura de um pergaminho. E ele seria capaz de falar.


66) Stikini (Folclore Seminole) - Imagine um licantropo que se transforma em uma coruja. Porém, um Stikini faz isso vomitando os próprios orgãos em algum lugar nas matas. Na sua forma animal, ele ataca humanos, arrancando o coração através da boca. Para mudar de volta à forma humana, o Stikini deve reaver os seus orgãos. Eu encontrei duas maneiras de matar um Stikini: a primeira é destruir os orgãos dele enquanto está caçando por aí; a outra é usando flechas com penas de coruja e tratadas com certas ervas.


67) Tartaruga Gigante (Folclore Creek) - Além do que o nome já indica, uma das histórias que eu li mostrava o casco de uma delas sendo confundido com uma grande rocha, então talvez tenha uma textura pedregosa. Elas são grandes o suficiente para nem repararem quando um grupo de indígenas sobe no casco. Contudo, eles não conseguem descer depois, pois alguma espécie de poder ou substância os prende ao casco da criatura. Isso faz com se afoguem quando ela entra na água. Não fica claro se essa era a intenção da Tartaruga.


68) Taqriaqsuit (Folclore Inuíte) - O povo-sombra. Estes seres vivem em um mundo parecido com o nosso, mas que não podemos perceber. É muito difícil ver um Taqriaqsuit, mas é possível ouví-los, por exemplo, quando se ouve alguém falando mas não há ninguém por perto. Eles são tímidos, desaparecendo quando notam que foram percebidos. Existem histórias sobre Inuítes que foram até o mundo dos Taqriaqsuits, mas poucos retornaram.


69) Tlanúsi (Folclore Cherokee) - Uma sanguessuga vermelha com listras brancas e tão grande quanto uma casa. Ela consegue fazer a água borbulhar, criando uma grande coluna de espuma que subiu ao ar e desceu no ponto onde as testemunhas estavam, o que teria feito com que elas caíssem na água. O Tlanúsi captura as suas vítimas dessa forma, mordendo fora os narizes e orelhas.


70) Tribo da Lua (Folclore Teja) - Os homens brancos afirmam que a lua é um mundo morto e vazio. Mas os Tejas contam que uma tribo já morou lá, caçando animais e evitando uma grande floresta, de árvores brancas e sem folhas, que abrigava uma bruxa anciã. Através de um ritual da bruxa, a filha do chefe da tribo lunar visitou a Terra para conhecer coisas que ela nunca tinha visto antes, como flores e o oceano. Ela até se apaixonou e se casou com o filho do chefe da tribo que a abrigou, mas teve que voltar para a lua. O filho do chefe logo morreu em combate e o seu espírito conseguiu ir até a lua para viver com a sua amada. Ela mandou estrelas cadentes em direção à Terra, que se transformaram em flores de cinco ou seis pétalas, brancas e rosas, todas douradas no meio. Dessa forma, a tribo que a hospedou soube que ela e o filho do chefe continuaram a viver na lua. E até hoje, as flores nascidas das estrelas cadentes cobrem as pradarias.


71) Tuniit (Folclore Inuíte) - Um povo pacífico que vivia na região antes dos Inuítes. A sua linguagem era simples, descrita como semelhante às palavras de um bebê. Eles tinham a mesma altura dos Inuítes, mas eram muito mais fortes. Então é melhor evitar que eles fiquem furiosos por alguma razão, como por exemplo, usar palavras difíceis.


72) Tupilaq (Folclore Inuíte) - Uma estátua grotesca feita de marfim, ossos diversos e/ou madeira. Ela é criada e animada por um xamã para morder um alvo específico até a morte. Esse monstro é capaz de nadar e planejar a melhor forma de atacar a vítima, por exemplo, escavando a terra para pegar o alvo por baixo. Ele também pode sentir dor, raiva e fome, então é possível que um Tupilaq, após ser animado, esteja vivo de fato e não seja um tipo de construto. Em uma das histórias, ele eventualmente decide devorar o seu criador, após falhar sucessivas vezes em atacar o seu alvo.


73) Uktena (Folclore Cherokee e Creek) - Uma enorme serpente que devora pescadores e crianças. Ela tem chifres e um cristal mágico na cabeça. É capaz de se mover pela água, pela terra e pelo ar. O brilho do cristal enfeitiça as pessoas, fazendo com que elas se aproximem da serpente ao invés de fugir. Existe uma história em que Uktena é morta por um xamã, que usou os poderes do cristal para curar os doentes, fazer o milho crescer e encher os rios com peixes.


74) Uncegila (Folclore Lakota) - Uma serpente gigantesca com um chifre curvo, escamas semicristalinas e uma crista reluzente. Quem enxerga Uncegila fica cego, enlouquece e daí morre quatro dias depois. A única forma de matar o monstro era atingindo um ponto específico com flechas encantadas, onde fica o seu coração: um cristal vermelho brilhante. Quem possuísse esse cristal ganharia grandes poderes. Um herói que já era cego conseguiu realizar esta façanha. Uma lenda conta que quando Uncegila surgiu das águas primordiais, causou uma enchente que matou muitas pessoas e devastou regiões. Isto enfureceu o Pássaro do Trovão, que usou os seus relâmpagos para fragmentar o coração de Uncegila em muitos pedaços.


75) Waziya (Folclore Lakota) - Um gigante que protege o lugar onde as luzes nortenhas, ou seja, a Aurora Boreal, dançam. Ele sopra o vento norte gelado de sua boca, controla neve e gelo. Waziya também enfrentava os ventos vindos do sul constantemente.


76) Welala (Folclore Tsimshian) - O espírito de uma montanha. Certa vez, um grande caçador perseguiu um urso até uma montanha. Ele achou uma porta e ouviu uma voz. Foi aí que a alma do caçador saiu do seu corpo e adentrou o interior oco da montanha, indo até o grande chefe Welala, que usava uma pele de urso. Ele deu ao caçador uma máscara de dança, uma pele de urso, um colar de casca de cedro e outros itens usados durante danças de inverno. Também concedeu ao caçador o poder do vôo. Mas o caçador abusou deste poder durante quatro anos, até ser capturado e curado pelos xamãs de sua tribo.


77) Windigo (Folclore Ojibwa e Cree) - Um canibal gigante (entre seis e nove metros de altura) que vaga pelas matas durante o inverno e devora todos que encontrar. A única maneira de escapar era se a vítima também se transformasse em um Windigo e lutasse contra o monstro. Uma luta dessas pode ter ambos os lados arrancando árvores do chão para usar como clavas. O Windigo é criado quando uma pessoa, muitas vezes sofrendo de fome, come carne humana. Existe uma história de como uma garota matou um Windigo ao se tornar tão gigante quanto ele, que o Windigo tinha um cachorro e como, após cortarem o Windigo em pedaços, as pessoas encontraram um homem comum dentro. O folclore Cree também menciona uma criatura chamada Whittico ou Wee tee go, que seria única, maligna, recebedora de sacrifícios e líder de espíritos perigosos que tomam a forma de animais. A diferença entre Windigo e Whittico é um tanto quanto ambígua e não me ficou clara, mas parece que o folclore evoluiu de um único ser para um tipo de criatura definida pelo gigantismo e canibalismo. Também existe a possibilidade de que Windigos são pessoas que, após consumir carne humana, são possuídas ou corrompidas por um espírito maligno, que pode ou não ser Whittico.

"Windigo" também se refere a casos de pessoas que parecem ter sofrido um surto psicótico, adquirindo desejo por carne humana e/ou tornando-se canibais, presentes em registros desde o século 17.


78) Wingwak (Folclore Algonquino) - Um tipo de borboleta que causa sono, mas parece que é preciso um enxame inteiro ao redor de um homem para induzi-lo a dormir.


79) Wiwilméku (Folclore Wabanaki) - O nome de um imenso caramujo chifrudo em que um xamã se transformou para duelar com outro xamã que se tornou uma serpente gigante. Wiwilméku ganhou a luta.


80) Yéitso (Folclore Navajo) - O maior e mais feroz dos Anaye, um termo traduzido como "deuses alienígenas*". O deus-sol, Tsóhanoai, diz que a criatura é filho dele. Todos os Anaye gostam de devorar humanos. Yéitso é descrito como um gigante tão imenso que o espaço entre os pés é a distância que uma pessoa caminha em um dia. Ele consegue secar lagos quando tem sede. O monstro é capaz de disparar relâmpagos como se fossem azagaias ou flechas. Yéitso veste uma armadura feita de escamas de sílex, que foi feita em pedaços que voaram em todas as direções pelas flechas-relâmpago dos heróis que o mataram. As pedras de sílex usadas pelos navajos como facas, pontas de flechas e outras ferramentas, teriam origem nessa armadura de escamas. Quando Yéitso morreu, o seu sangue formou um rio. Os heróis tiveram que escavar trincheiras para impedir que esse sangue chegasse até os outros Anaye, pois caso isso acontecesse, Yéitso poderia ser ressuscitado. O sangue eventualmente para de correr, talvez por ter coagulado. Mas até hoje essa imensa quantidade de sangue coagulado preencheria todo um vale.

*O termo "alienígena" usado aqui é no sentido de "estrangeiro" ou "algo que veio de fora", sem necessariamente remeter a extraterrestres.

Bestiário Norte-Americano - Parte 1 de 2

Axehandle hound. Desenho liberado no domínio público.

 

Dando continuidade às listas de criaturas sul-americanas e africanas, aqui vai a próxima: uma lista baseada nos folclores, indígenas ou não, da América do Norte.

Adendo: eu evitei colocar lendas urbanas que surgiram ou se espalharam com a internet, como por exemplo o Chupacabra. Imaginei que elas seriam populares o suficiente. O meu foco é descobrir o que é pouco conhecido.


1) Achiyalatopa (Folclore Zuni) - Um imenso pássaro que tem o corpo coberto com facas de sílex* em vez de penas. Esta criatura celestial ensinou muitas coisas aos Zunis.

*Um tipo de pedra usada como pontas de flecha e lança, e lâminas de machado, muito valorizada pelos nativos norte-americanos. Ela também cria faíscas ao raspar aço, sendo usada para fazer pederneiras.



2) Akhlut (Folclore Inuíte) - Uma orca que pode se transformar em um lobo, para matar pessoas e animais em terra firme.



3) Aranha-Oceânica (Folclore Inuíte) - Certa vez, um homem navegando de caiaque viu o fundo do mar, em um ponto onde ele sabia que isso não era possível. De repente, ele se lembrou de como os anciãos falaram da Aranha-Oceânica, um animal muito perigoso para barcos. Então ele viu um olho enorme, e logo viu outro, e ao fugir viu uma fenda, como se uma boca estivesse se abrindo. O barqueiro nunca teria escapado, se não fosse a sua habilidade no caiaque.



4) Atshen (Folclore Inuíte) - Uma pessoa que se tornou um monstro selvagem após consumir carne humana, similar ao mito do Windigo. A diferença aqui é que o Atshen cresce conforme devora pessoas, eventualmente tornando-se um gigante.



5) Augerino (Folclore dos Estados Unidos) - Um verme gigante que esburaca represas e canais de irrigação para drenar a água. O seu nome seria porque ele é semelhante a um auger, que é um tipo de broca.



6) Awakkule (Folclore Crow) - Anões que vivem nas montanhas. São fortes e ajudam as pessoas, mas gostam de pregar peças em quem acampa perto de suas aldeias.



7) Axehandle Hound (Folclore dos Estados Unidos) - Uma criatura específica das histórias de lenhadores. Um cão selvagem com cabeça em forma de machado, corpo fino como um cabo de machado e pernas atarracadas. Ele se alimenta apenas de cabos de machado. Ninguém acredita que esse animal existe de verdade.



8) Cabeça-Rolante (Folclore Wintu) - Após quebrar um tabu, uma garota se machuca e experimenta o próprio sangue. Ela gosta tanto que canibaliza a si mesma, tornando-se apenas uma cabeça que rola e pula para devorar mais pessoas.


9) Canibal (Folclore Nez Perce e Cherokee) - Um historia do povo Nez Perce conta sobre o irmão mais velho de cinco: após experimentar o seu sangue, ele comeu a própria carne até se tornar um esqueleto sangrento. Ele então capturou e devorou três dos seus irmãos, usando uma corda feita dos próprios intestinos. Já um conto Cherokee fala de um canibal cuja pele era feita de pedra, chamado Nun'yunu'wi.


10) Canotila (Folclore Lakota e Sioux) - Espíritos da natureza parecidos com ninfas, que moram nas árvores e servem de mensageiros.


11) Cheeno (Folclore Alconquin) - Um povo de canibais com corações gélidos. Eles tem olhos que lembram os de um lobo, ficam nus mesmo no inverno. Os ombros e lábios são mutilados, como se o Cheeno tivesse mastigado estas partes de si mesmo. Os Cheenos vem do norte gelado e são fortes, capazes de rapidamente cortar árvores com um machado. Também são muito rápidos, mesmo carregando alguém nos ombros. Os gritos de guerra dos Cheenos podem causar a morte de pessoas. A força da sua fúria mágica pode fazer com que eles cresçam de tamanho. Estas criaturas não suportam sequer ficar perto do fogo e também ficam fracas frente ao calor do verão. Eles podem ser surpreendidos por gentilezas e então agir de forma igualmente gentil, ajudando quem os acolhe. Mas um Cheeno que coopere com pessoas será o alvo de outros Cheenos. É possível matar um Cheeno, mas ele deve ser então queimado. Se apenas um pedaço sequer restar, dele surge um novo Cheeno. O coração, sendo tão gélido, é especialmente difícil de queimar, devendo ser derretido aos poucos. Esse "coração" é literalmente feito de gelo, com a forma de uma pequena figura humana. As mulheres Cheeno são mais fortes do que os homens Cheeno. Um ser humano pode ser transformado em um Cheeno, através da ação de algum espírito maligno. Essa transformação pode ser induzida pela magia de um feiticeiro. A pessoa passa a sofrer uma sensação de calor, aliviada pelo consumo de neve; ela fica maior e o seu humor muda, ficando mais feroz.


12) Dagwanoenyent (Folclore Iroquois) - Uma grande cabeça voadora com olhos enormes e cabelo longo. Ele é tio de um grupo de irmãos que buscam a sua ajuda contra bruxas. Ele come a casca de árvores nogueiras e pode se transformar em um furacão. Dagwanoenyent ajuda os seus sobrinhos, mas apenas depois de uma luta em que eles o derrotam. Através de um ritual, ele também ressuscita os irmãos que as bruxas reduziram a esqueletos.


13) Dedo-de-Lança (Folclore Cherokee) - Também chamada U`tlûñ'ta. Uma ogra que devora os fígados das pessoas. Ela pode assumir qualquer forma que desejar, mas a sua aparência natural é de uma anciã cuja pele é dura como pedra. A mão direita tem um longo dedo pontudo feito de pedra, com o qual ela apunhala quem chega perto demais. Ela possui poderes relacionados a pedras, como carregar grandes rochas e uní-las apenas batendo uma contra a outra, sendo capaz de criar grandes pontes para atravessar terrenos irregulares. Sempre está na busca por vítimas nos passes de montanha e nascentes dos rios. Ela é capaz de matar alguém com o dedo sem que a vítima sinta dor ou tenha uma ferida, removendo o fígado e causando a morte eventual da vítima.


14) Demônio de Jersey (Folclore dos Estados Unidos) - A lenda conta que uma senhora Leeds, ficou angustiada quando aprendeu que estava grávida pela décima terceira vez. Na ocasião, ela gritou algo como: "que seja o demônio então!" Quando ela deu à luz, era um bebê demoníaco. Ele guinchou, abriu as asas e voou pela janela em direção ao pântano próximo. Isso teria acontecido há mais de duzentos anos atrás, mas o Demônio ainda habita a região. Descrito como tendo chifres, a cabeça semelhante à de um cavalo, asas de morcego e um rabo longo.


15) Djieien (Folclore Seneca) - Um aranha do tamanho de um homem, com pernas longas. Ela esconde o seu coração sob a terra, fazendo com que seja impossível matá-la caso o mesmo não seja perfurado.


16) Dzonokwa (Folclore Kwakiutl) - Uma mulher gigante e canibal, tão horrenda que provoca pesadelos em homens adultos. Ela preferia raptar crianças e levá-las para serem devoradas em seu lar nas profundezas da floresta.


17) El Muerto (Folclore do Velho Oeste) - Um ladrão de cavalos chamado Vidal foi decapitado pelos Texas Rangers por seus crimes. O seu corpo foi posto em cima de um cavalo e a cabeça presa na sela. Logo surgiram histórias de um cavaleiro sem cabeça que andava pela fronteira entre os Estados Unidos e México. Pessoas davam tiros nele, mas ele continuava galopando. Surgiu a lenda de El Muerto. Um grupo de rancheiros capturou o cavalo que ainda carregava o corpo de Vidal, cheio de chumbo e flechas. Eles o enterraram. Mesmo assim, a lenda continuou, com pessoas jurando ter visto um cavaleiro sem cabeça em 1917 e 1969, entre outros anos. Um dos testemunhos conta que El Muerto teria dito, mesmo sem cabeça: "É meu. É tudo meu."


18) Flechas Vivas de Kumagdlak (Folclore Inuíte) - Um feiticeiro chamado Kumagdlak criou flechas com vida própria ao exalar a sua respiração nelas. As pontas das mesmas eram feitas das mandíbulas de homens, e tremiam caso o seu mestre ficasse preocupado. As Flechas podiam voar por conta própria na direção dos inimigos de seu mestre.


19) Gaasyendietha (Folclore Seneca) - Dragões meteóricos, com corpos flamejantes e brilhantes. Eles precisam ficar em águas profundas, pois soltam tantas faíscas que causam incêndios. Estas criaturas podem pensar e falar como seres humanos. Gaasyendiethas só costumam voar para ir de um mar, rio ou lago para outro. Eles não buscam fazer mal a humanos, e podem até ser amigáveis com alguém sendo perseguido por um inimigo.


20) Gahonga (Folclore Iroquoi) - Anões que vivem em rochedos e perto de rios, chamados de "atiradores de pedras" devido à sua grande força e predileção por brincar com pedras como se fossem bolas de algum esporte.


21) Gigantes de Tirawa (Folclore Pawnee) - Tirawa é o nome do deus supremo Pawnee. Esse povo conta que, antes de criar os humanos, Tirawa criou gigantes. Mas eles não respeitavam o seu criador, então Ele decidiu destruí-los. Primeiro, Tirawa usou relâmpagos, mas os Gigantes eram tão enormes e poderosos que os raios não surtiam efeito. Foi aí que Tirawa invocou uma tempestade sem fim. Os Gigantes se refugiaram nas terras altas, mas, conforme a chuva continuava, o solo ficou tão enlameado e macio que os Gigantes afundaram lama adentro. Os ossos deles ainda podem ser encontrados embaixo da terra ou onde os rios erodiram as margens.


22) Ijiraat (Folclore Inuíte) - Espíritos que conseguem se transformar em qualquer animal ártico, como corvos, ursos, lobos e até humanos. Mas por mais que tentem se disfarçar, é possível saber quem são pelos olhos, que continuam vermelhos não importa a forma. Há quem ache que são malignos, outros dizem que são incompreendidos. Também é dito que estas criaturas trazem mensagens para viajantes, mas não é claro qual a origem da mensagem. Um ancião conta que Ijiraats são cercados por miragens. Seja qual for a verdade, todos parecem concordar que as pessoas que encontram um Ijiraat logo esquecem o que o fizeram. Mas o processo não parece ser instantâneo, então é possível contar o que houve para alguém antes da memória sumir.


23) Inua (Folclore Inuíte) - Espíritos aliados de xamãs. Eles assumem as formas de animais. As maneiras que um Inua ajuda xamãs são: como fontes de poder; observando o comportamento das pessoas; informando sobre tabus quebrados; ajudando o xamã a se comunicar com espíritos mais poderosos; permitindo que xamãs se transformem em animais e que animais se transformem em humanos ou animais diferentes.


24) Inupasugjuk (Folclore Inuíte) - Gigantes da região ártica. Eles são vistos apenas raramente, com os homens sendo maiores e menos comuns do que as mulheres. Elas acham que humanos são engraçados e os pegam para usar como se fossem brinquedos ou animais de estimação. Para escapar de um ou uma Inupasugjuk, seja furtivo e evite que ele ou ela o veja.


25) Haakapainizi (Folclore Kawaiisu) - Um gafanhoto gigante que gosta de cantar enquanto rouba e devora crianças humanas. Ele as carrega em uma cesta.


26) Haietlik (Folclore Nootka) - Serpentes-relâmpago. Elas são aliadas e armas dos Pássaros do Trovão, descritos mais adiante. Uma Haietlik fica entre as penas das asas do Pássaro, e é disparada quando o mesmo bate as suas asas.


27) Hanehwa (Folclore Seneca) - Seres feitos da pele esfolada de uma pessoa por feiticeiros. Eles nunca dormem e servem como alarmes, dando três gritos quando um estranho se aproxima.


28) Homem Escalpelado (Folclore Arikara) - Às vezes, alguém sobrevivia a ser escalpelado. Os Arikaras consideravam tais pessoas "transformadas", no sentido de que não eram mais humanas. Algum poder sobrenatural tinha determinado que vivessem, mas que a sua existência seria solitária, tornando-se uma espécie de pária. Nas histórias indígenas, Escalpelados podiam tanto ser tanto espíritos malignos que roubam coisas e até pessoas, quanto seres benfeitores que concedem poderes relativos a cura ou guerra a alguém.


29) Homem-Espírito (Folclore Haida) - Um ser sobrenatural, capaz de usar uma orca (chamada skana) como canoa. O espírito fica dentro da baleia enquanto ela nada, aparentemente controlando-a. Ele também é capaz de transformar o animal em uma canoa comum para que quaisquer ferimentos da forma animal possam ser consertados com madeira de cedro.


30) Homem-Mariposa (Folclore dos Estados Unidos) - A presença dessa criatura seria sinal de que um desastre está por acontecer, mais especificamente, de que uma ponte vai desabar. A aparência seria de um humanoide marrom escuro, com asas de couro e olhos vermelhos. Ele seria capaz de voar a mais de cento e sessenta quilômetros por hora. Não fica claro se a criatura é responsável pelos desastres que anuncia. Pelo menos um ufologista sugeriu que o Homem-Mariposa possa ser um alienígena.


31) Hurakan (Folclore Teja) - A montaria do deus das tempestades, um pássaro gigante com asas negras. As tribos da região tinham muito medo das ocasiões em que o deus e sua montaria surgiam, pois isto as nuvens surgiam, o vento soprava forte das asas de Hurakan e o céu escurecia de tão nublado. O deus não gosta quando os indígenas matam muitos pássaros, causando tempestades ainda piores, causando enchentes e ventos tão fortes que levam as pessoas embora. Estas vindas do deus e de seu pássaro acontecem até hoje, sendo chamadas pelos homens brancos de "furacões".


32) Kachina (Folclore Hopi) - Poderosos espíritos dos mortos que intermediam entre o mundo dos humanos e o mundo dos espíritos. Kachinas podem ser homens ou mulheres e possuem muitas formas: animais, plantas, ogros, demônios e até palhaços*. Pessoas que tiveram uma vida apropriada se tornam Kachinas após a morte. É dito que os Kachinas viviam nas montanhas de São Francisco, no estado de Arizona. Eles visitavam as comunidades para dançar e assim invocar as chuvas. Mas agora que eles não vem mais, dançarinos devem usar máscaras e fantasias para personificá-los durante cerimônias. Existem centenas de Kachinas, cada um com o seu nome, máscara e fantasia específica.

*Palhaços tem funções importantes e até sagradas em certas sociedades indígenas norte-americanas.


33) Kukuweaq (Folclore Inuíte) - Um monstro com a forma de um urso polar com dez pernas.


34) Kwanokasha (Folclore Choctaw) - Um espírito do tamanho de uma criança de três anos. Ele vive em uma caverna, abaixo de grandes rochas. O espírito sequestra crianças doentes para testá-las em seu lar. Lá, três espíritos ancestrais oferecem à criança uma faca e dois punhados de ervas. Se a criança pegar a faca, se tornará uma pessoa má. Se a criança pegar as ervas venenosas, nunca poderá ajudar ou curar outros humanos. Mas se a criança pegar as ervas não-venenosas, ela se tornará um curandeiro influente. Nesse caso, Kwanokasha e os três espíritos ensinam a criança a usar ervas medicinais e como curar pessoas. Mas a criança poderá usar essas habilidades apenas quando adulta.


35) Lenapísha (Folclore Peoria) - Descrito como uma espécie de dragão enorme que pode viver no seco mas costuma ficar dentro d'água, onde ele brilha em diversas cores. Também é descrito como um fantasma que simboliza o relâmpago ao atingir um rio ou lago, o que causa uma ebulição da água que faz o Lenapísha aparecer como um dragão do fogo. O termo também serve para designar qualquer animal gigantesco.


36) Lutin (Folclore Canadense) - Uma espécie de hobgoblin* conhecido na província de Quebec. Eles são pequenos espíritos na forma de animais domésticos, desde gatos e cães a ratos e pássaros. Podem tanto proteger ou trazer boa sorte quanto pregar peças nos habitantes de uma casa. Existe até um relato de um Lutin que raspava a barba de seu mestre e engraxava as suas botas todos os domingos. Quanto às travessuras, elas podem ser coisas como encontrar os sapatos cheios de pedras ou descobrir que um pedaço de carne foi petrificado. Lutins detestam sal e evitam lugares ou entradas com sal derramado, mas são habilidosos em achar frestas e outras maneiras de entrar na casa ou celeiro que estão habitando.

*O conceito original de "hobgoblin" é um goblin ou elfo que ajuda nas tarefas domésticas de um lar ou família caso ele receba algo em troca. Sim, não tem nada a ver com a ideia popularizada pelo jogo Dungeons & Dragons.


37) Mahaha (Folclore Inuíte) - Um demônio que gosta de fazer cócegas em suas vítimas até elas morrerem. Os cadáveres ficam com um sorriso torto e congelado. Contudo, é fácil enganar o Mahaha. Ele é humanoide, magrelo, com uma pele da cor do gelo azul, olhos brancos e cabelo longo. Quase não usa roupa mas o frio não o incomoda. Dos dedos finos saem unhas longas e afiadas para fazer as cócegas.


38) Manitou (Folclore Cree e Ojibwa) - Espíritos que habitam plantas e animais, rochas, ventos, trovão, o sol e a lua. Até os conceitos de pobreza e paternidade possuem Manitous. Eles são classificados em muitos grupos diferentes, dependendo do que habitam. Se um Manitou de um grupo é ofendido, todos os outros do mesmo grupo também são. Os Manitous frequentemente surgem em sonhos para conceder poderes e proteção.


39) Medawlinno (Folclore Abenaki) - Uma pessoa nascida com poderes espirituais: ela pode localizar animais para caçadores, deixar pegadas em pedras e curar pessoas. O instrumento mágico do Medawlinno é o tambor.


40) Memekwesiwak (Folclore Cree) - Espíritos aquáticos cômicos que são amigáveis a humanos mas pregam peças em quem não acredita neles. São capazes de influenciar pessoas de forma romântica.

 

Parte dois aqui.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Bestiário Africano - 3 de 3

Imagem do RPG Spears of the Dawn, liberada no domínio público.

Conforme prometido, após criar uma lista de criaturas de folclores e mitologias sul-americanas, apresento-lhes a lista de seres fantásticos dos folclores e mitologias africanos. Totalizando 101 criaturas, ela é dividida em três partes. Por favor, aproveite e se inspire. Parte um aqui e parte dois aqui.

Quase esqueci de dizer: esta lista foca nos folclores e mitologias da África, deixando de lado criaturas originárias do Antigo Egito ou da Árabia, como os gênios. Eu quis descobrir justamente o que é pouco conhecido.


68) Mumbonelekwapi (Folclore Ajaua) - O nome significa “de quão longe você me viu?”, porque estes anões barbudos têm um complexo em relação às suas alturas. Eles falam esta frase quando chegam perto de alguém, e a pessoa deve responder que os viu de longe, ou arrisca receber um golpe de lança. Eles vivem nas montanhas e são ótimos ferreiros.


69) Ndzoodzoo (Folclore Macua) - Uma criatura com um chifre do tamanho de um cavalo, mas não fica claro se ela se parece com um cavalo ou não. Eu pessoalmente acho um elande de um chifre só uma ideia interessante. O chifre tem setenta e seis centímetros de comprimento. Ndzoodzoos são ferozes e atacam sem necessidade de serem provocados. É curioso que quando dormem ou estão calmos, o chifre fica flexível e se enrola ao redor da cabeça. Mas se forem ameaçados ou ficarem furiosos, o chifre endurece e se torna uma arma. A ndzoodzoo fêmea não tem um chifre.


70) Ngojama (Folclore Pokomo) - Uma criatura vampírica. Se parece com um homem, mas tem um prego de ferro na palma da mão, usada para apunhalar as pessoas que pega e beber-lhes o sangue. Um registro acrescenta um rabo na descrição do Ngojama, e diz que certa vez, um homem tentou civilizar um destes monstros, ensinando-lhe como fazer fogo e cozinhar. Parecia ter sucesso, até que, certo dia, o Ngojama o atacou e o devorou. O povo Galla dá o nome Ngojama a leões comedores de homens, aparentemente sem associação com o sobrenatural.


71) Ngoma-lungundu (Fcolore Venda) - Um tambor sagrado chamado “O Tambor dos Mortos”, considerado a voz divina. Ninguém exceto o rei ou o alto sacerdote podiam tocar ou sequer ver o tambor, que permtia ao rei realizar milagres. O rei Mwali, que se tornou um ancestral-deus, falava através do tambor.


72) Ninginanga (Folclore Malinquês) - Um demônio com chifres e olhos flamejantes que vive nas montanhas. Se o rei local mantém boas relações com o demônio, o mesmo vomita ouro e prata. Se algo amargar a relação entre eles, Ninginanga se enrosca ao redor do rei e o sufoca. Isto parece sugerir que o demônio tem uma forma serpentina.


73) Nkala (Folclore do povo Barotse, atual Zâmbia) - Outro familiar de um bruxo, feito a partir do exoesqueleto de um caranguejo, preenchido por alguma espécie de amuleto ou fetiche. Isto faz com que o familiar seja possuído pelo espírito de um caranguejo, que então se esconde em um rio. Quando a vítima definida pelo bruxo atravessa o mesmo rio, o familiar usa as suas longas pinças para agarrar a sombra da pessoa. O termo dos Barotse para sombra, mwevulu, também significa “alma”. Aparentemente, o familiar come esta sombra, causando a morte da vítima.


74) Nkondi (Fcolore Bacongo) - Ídolos encantados que abrigam um espírito capaz de caçar e atacar inimigos, criminosos e bruxos. Eram usados para garantir juramentos ou proteger aldeias de pessoas malignas como feiticeiros. O plural de Nkondi é Minkondi, Zinkondi ou Ninkondi. As figuras são criadas por uma espécie de artesão divino chamado Nganga. Os olhos e a bolsa de remédios da estátua são feitas com espelhos, permitindo que ela enxergue o mundo dos espíritos. Algumas figuras são decoradas com penas, simbolizando a ideia de que elas enxergam o mundo e as suas presas como se fossem aves de rapina.


75) Nkuyu unana (Folclore de Mayombe, no Congo) - Esses monstros são as almas de bruxos que ressurgiram da tumba. São descritos como sendo baixos, talvez por terem as pernas cortadas na altura do joelho, pele completamente negra, uma unha muito longa, cabelo longo e emaranhado. Eles vagam por aldeias desertas e cemitérios, roubando galinhas, amedrontando crianças e, às vezes, atacando pessoas. É possível ouvi-los gemendo e reclamando do frio, ou imitando as vozes de crianças para enganarem alguém. Caso um Nkuyu unana seja morto, deve-se queimar o corpo. Outra tática contra eles é colocar veneno no buraco do qual ele sai ao deixar o seu túmulo.


76) Nommos (Religião Dogon) - Os espíritos ancestrais primordiais do povo Dogon. Descritos como criaturas semelhantes a peixes, anfíbias e hermafroditas. A arte local mostra um tipo de sereia. Termos para se referir aos Nommos são “Mestres da Água” e “Professores”.


77) Nzassi (Folclore do Congo) - Um termo usado tanto para "relâmpago" quanto "trovão", embora Lu siemo também seja um termo para o relâmpago. Os locais falam de ambos como se fossem pessoas. Por exemplo, dizem que se você está na selva, ouve o trovão e tenta correr, Nzassi vai atrás de você e te mata. Um relato fala que Nzassi tem vinte e quatro cães de caça que atacam quem estiver do lado de fora da casa durante uma tempestade, e incendiando uma palmeira, assim como um raio.


78) Obayifo (Folclore Ashanti) - Um vampiro, que alguns também consideram um tipo de bruxo. Seriam comuns e capazes de habitar os corpos de pessoas. Teriam olhos desonestos e serem obcecados com comida. Quando viajam à noite, emitem uma luz fosforescente das axilas e do ânus.


79) Owuo (Folclore de Togo) - Um gigante canibal, a personificação da morte. O mito conta que o povo, após descobrirem que o gigante comia pessoas, o queimaram. O lar do mesmo continha alguma espécie de remédio que, quando colocado no ossos que haviam no lar do gigante, ressuscitaram as pessoas que ele havia devorado. Sem querer, alguém deixou um pouco do remédio cair no olho do gigante, e ele abriu. Agora, de acordo com o mito, sempre que o olho pisca, alguém morre. Ele ainda está em algum lugar, piscando.


80) Pégaso Etíope - Esta criatura não pertence aos folclores e mitologias locais, mas foi descrita por Plínio, o Velho, em sua obra chamada “História Natural”. Estes cavalos seriam descendentes do Pégaso original, teriam asas e dois chifres.


81) Popobawa (Folclore Suaíle) - Um espírito maligno, cujo nome significa "asa de morcego". A forma fisíca do espírito pode mudar, mas a sombra escura que ele cria quando ataca à noite, é a razão do nome. Os Popobawas podem assumir formas de homens e animais. Eles preferem a noite mas podem ser vistos de dia. Algumas pessoas os associam a um cheiro de enxofre. Quando ele ataca, pode gerar fenômenos paranormais ou simplesmente usar de violência contra as vítimas; mas o que todos temem é caso ele decida violentar homens e mulheres. Este monstro é um tipo de Shetani, visto abaixo.


82) Putchu Guinadji (Folclore Cotoco) - Este fetiche é uma espécie de talismã usado por pessoas sofrendo de loucura ao serem atacadas por demônios. Ele tem a forma de um cavaleiro montado sobre um cavalo, e costuma ser feito de prata. Em casos mais sérios, deve ser envolvido em couro. Ninguém além do seu usuário deve tocar em um Putchu Guinadji, pois os demônios, e portanto a loucura, são transmissíveis.


83) Relâmpago (Múltiplos folclores) - Os povos Pondo, Zulu e Xhosa acreditam no relâmpago como sendo um pássaro chamado Impundulu. As descrições dele são muitas e variadas. O Impundulu é associado a muitos pássaros diferentes por povos diferentes: pássaros negros ou vermelhos, águias ou pavões, penas iridescentes ou brilhantes, do tamanho de uma pessoa ou não etc. Inclusive existem algumas tribos que pensam no relâmpago como um animal diferente. Por exemplo, os Bushongo acham que ele é Tsetse Bumba, um leopardo todo negro. Já os Lambas acreditam em uma criatura semelhante a uma cabra com as pernas traseiras e caudas de um crocodilo, que desce ao mundo através de uma corda descrita como forte e parecida com uma teia de aranha velha, coberta com poeira.

O Impundulu criaria o trovão ao bater as asas. Quando atinge o chão na forma de um raio, ele deixa um grande ovo que traz má sorte à vizinhança. Um feiticeiro seria necessário para escavar o ovo e destruí-lo, mas aparentemente, a posse do ovo poderia trazer boa sorte. Caso alguém consiga capturar ou matar um Impundulu, pode obter a sua gordura, que tem propriedades mágicas usada para conjurar raios e detectar ladrões.


84) Rompo (Folclore africano e também indiano) - O nome significa “devorador de pessoas”. Essa criatura é um carniceiro que desenterra os corpos de humanos. O Rompo vive em florestas. Cauteloso, anda ao redor da refeição diversas vezes antes de consumi-la. Um monstro quimérico, tem cerca de 90 centímetros de comprimento (sem incluir o rabo), as patas dianteiras de um texugo, parece um urso do quadril para baixo, a cabeça é de uma lebre e a crista é como a de um cavalo.


85) Sasa e Zamani (Folclore Suaíle) - Os Sasas são espíritos conhecidos por pessoas vivas, enquanto os Zamanis são espíritos que ninguém mais conhece. É como se o espírito da pessoa morta ainda tivesse uma espécie de meia-vida limitada pelas lembranças dos vivos. Quando ninguém mais se lembra de um Sasa, ele ou ela se torna um dos Zamanis, que ainda são reverenciados como um todo, sem identidade individual.


86) Shetani (Folclore Suaíle) - O plural é Mashetani. Um tipo de espírito, a maioria deles são malignos, possuem formas diferentes e poderes diversos. Muitos artesãos esculpem Mashetani em ébano ou outra madeira escura africana, incluindo uma ou mais das seguintes características: formas humanas, animais ou combinações das duas; deformações como serem ciclopes, apêndices exagerados, bocas sem dentes e corpos voltados para trás, com a cabeça virada no sentido contrário. Existem diversos tipos de Mashetani: o Ukunduka se alimenta através de relações sexuais; o Shetani Camaleão é uma espécie de réptil carnívoro; o Shuluwele é inofensivo e colhe ervas medicinais para feiticeiros.


87) Sinkinda (Oeste da África) - Um tipo de espírito. O singular é Nkinda. Existem duas teorias sobre a origem deles. A primeira é de que são as almas de pessoas medíocres. A outra é de que são demônios que nunca chegaram a receber uma forma fisíca. Quase todos os Sinkinda são malignos. Eles sentem frio, então entram nas aldeias para se aquecer junto à fogueira. Outros podem surgir nas comunidades dos vivos por pura curiosidade. Alguns Sinkinda então possuem os corpos das pessoas, geralmente da sua própria família. Se muitos Sinkinda possuírem o corpo de uma pessoa ao mesmo tempo, ela pode enlouquecer. Caso alguém pergunte, o Nkinda pode responder: "eu sou um espírito da sua própria família, e vim viver com vocês. Estou cansado de sentir fome e frio na floresta. Eu quero fica aqui." A possessão por um Nkinda pode deixar alguém doente. Alguns Sinkinda, chamados Ivâvi, servem como mensageiros, trazendo notícias distantes como “uma epidemia está vindo” ou “um navio carregando uma fortuna está vindo”. Estes casos são considerados bençãos, pois o Nkinda tenta ajudar o(s) vivo(s).


88) Subaga (Folclore Bammana de Mali) - Vampiros que conseguem voar, ser silenciosos e sugar a vida das pessoas. O primeiro Subaga foi um homem chamado Kenimbleni, que roubou do feiticeiro Korongo três pós secretos. O primeiro fez com que ele pudesse trocar de pele como uma cobra, tornando-o imortal; o segundo o tornou capaz de voar à noite, como um morcego; o terceiro permitiu que ele conversasse com os pássaros. Depois, Kenimbleni também aprendeu a se transformar em um leão ou um pássaro de garras vermelhas. Os Subaga comunicam-se entre si, usando tambores cobertos com peles humanas.


89) Svikiro (Folclore Xona) - Um espírito ancestral que possui uma pessoa para dar conselhos. Também é o nome do médium que hospeda o espírito. Um tipo de Svikiro são os Mhondoros, espíritos de reis e chefes que normalmente habitam os corpos de leões sem juba.


90) Tibicena (Mitologia Guanche, das ilhas Canárias) - Também chamados de Guacanchas. Um tipo de demônio com a aparência de grandes cães selvagens com olhos vermelhos e um pelo negro longo. Eles viveriam em cavernas sob as montanhas. Estes monstros seriam a prole de Guayota, um tipo de deus maligno ou diabo.


91) Tikoloshe (Folclore Xhosa) - Um monstro peludo semelhante a um babuíno. Os Tikoloshes viviam nos rios, mas agora parecem fazer parte do folclore urbano, sendo vistos até em Joanesburgo. Eles podem ficar invisíveis temporariamente e também sabem como se transformar em uma criança humana, graças aos seus poderes mágicos. Eles tem longas unhas negras, violentam mulheres e pulam nas costas das pessoas para forçá-las a fazer o que eles querem.


92) Ture (Mitologia Azande) - O povo Azande é astucioso e calculista quando conversa: eles percebem o poder das palavras e as usam de forma cautelosa. Eles tem uma forma de falar chamada sanza, em que as palavras e gestos tem significados ocultos, muitas vezes maliciosos. Eles entendem o mecanismo mental chamado por psicólogos de “Projeção”, como que as pessoas geralmente odeiam que elas acham que odeiam elas.

Simbolizando esta compreensão do ser humano, existe uma figura chamada Ture. Retratada como metade homem, metade animal, um ser social que possui um lado amoral. Ture representa o lado obscuro da natureza humana. Também representa a ideia de que as pessoas são animais forçados pela sociedade a usar máscaras.


93) Tuyewera (Folclore Lamba, Kaonde e Baila) - Um diabrete com cerca de noventa centímetros de altura encomendado de feiticeiros para adquirir fortuna para o dono. Eles se tornam invisíveis e roubam comida de outros para adicionar às reservas do seu mestre. Depois de algum tempo, eles dizem ao dono que estão solitários e querem companhia, então exigem o nome de alguém, e se o dono não disser, o Tuyewera o mata. A pessoa nomeada é morta quando o diabrete suga o seu fôlego enquanto ela dorme. Isto também cria um novo diabrete. O mestre tem que nomear novas vítimas de tempos em tempos, ou ele será a próxima. 

O povo Baila chama essas criaturas de Tuyobela, acreditando que elas são os fantasmas de homens e mulheres mortos por bruxas e então conjurados na forma de um espírito maligno, mas físico o suficiente para morder pessoas. Os Tuyobelas tem a cabeça virada ao contrário e são usados para envenenar, causar doenças e matar.


94) Umdhlebi (Folclore Zulu) - Uma árvore perigosa e feia. As folhas são de um verde escuro, reluzentes, duras e quebradiças, enquanto a fruta é uma vagem escura com a ponta vermelha. Esta planta é capaz de envenenar qualquer pessoa que se aproxime. Os sintomas são uma forte dor de cabeça, olhos vermelhos, delírio e morte. Existe a crença de que algumas pessoas são capazes de colher as vagens que caíram ao chão, mas apenas se se aproximarem pelo lado que o vento sopra. Elas também sacrificam um animal para o demônio vivendo dentro da árvore. As vagens colhidas podem ser usadas para criar um antídoto contra o veneno da árvore. Ela cresce em solo rochoso e infértil, mas existe um arbusto com as mesmas características que cresce em solo fértil.


95) Umvoku (Folclore Zulu) - Uma combinação de morto-vivo e familiar de um bruxo. Esta criatura é criada a partir de um cadáver, tornando-se da altura de uma criança e incapaz de falar, exceto por uma espécie de grunhido. Isto é porque o bruxo corta a língua dele, para evitar que o Umvoku divulgue os seus segredos. O ritual para criá-lo parece incluir uma agulha incandescente inserida na testa. Um dos propósitos deste morto-vivo é envenenar pessoas em uma aldeia. Existe uma crença similar à do Banshee irlandês: ver um Umvoku é sinal de que alguém vai morrer, e que os parentes de alguém doente devem desistir da ideia de que a pessoa se recupere. Um relato diz que o Umvoku é capaz de manipular a grama para que ela se enrosque ao redor das pernas de uma pessoa. Outro possível poder dele é que, caso alguém diga o seu nome, ele corta a garganta da pessoa e a transforma em um outro Umvoku.


96) Urso Nandi (Folclore do leste africano) - O nome "Nandi" vem do povo Nandi, que vive no Quênia. Como o nome indica, é semelhante a um urso de pelagem escura, ou marrom-avermelhada com uma listra branca. O seu rugido seria similar a uma espécie de gemido. Um relato inclui orelhas grandes. A criatura é popular entre criptozoologistas, que a associaram a diversas criaturas folclóricas e lendárias desta lista, como o Lukwata e o Dingonek. Outra possível forma do Nandi é de que seja um tipo de babuíno gigante.


97) Usilosimapundu (Lenda dos Zulus) - Esta criatura é basicamente uma ilha ou região inteira sobre pernas, “uma terra que se move”. A sua descrição fala que, no seu dorso, hão áreas passando pelo inverno, enquanto outras estão na estação da colheita. Nas costas de Usilosimapundu, encontramos colinas, rios, terras altas e precipícios. Grande assim, é até capaz de ser um continente ambulante, podendo simbolizar a crença de que o mundo é um grande animal sobre o qual as pessoas vivem. Por outro lado, em dado momento, ela consegue se esconder atrás de um morro. O seu tamanho parece depender da narrativa, então caso a use em algo, sinta-se livre para fazê-la tão colossal quanto achar melhor. O rosto é uma grande rocha, com olhos e uma larga boca vermelha. A criatura possui um rebanho de gado, mas não é claro se ela precisa destes animais para algo. O dorso dela também tem duas árvores “mais altas do que todo o resto”, que são alguma espécie de subalternos de Usilosimapundu.


98) Vazimba (Folclore de Madagascar) - A crença popular é de que estes pequeninos foram os primeiros habitantes da ilha. Algumas pessoas acham que isto tem um fundo de verdade, teorizando que existiu um povo pigmeu vivendo lá antes dos povos atuais. Existem muitas histórias, tradições e crenças a respeito dos Vazimbas em Madagascar. Por exemplo: alguns acham que eles não eram humanos, mas espíritos ou monstros que assombravam certos lugares como rios e rochedos; Vazimbas teriam o costume de submergir os seus mortos em certos brejos, e que tais lugares são sagrados, atraindo peregrinos que fazem sacrifícios; os Vazimbas sempre são menores do que pessoas comuns, tendo pele muito pálida ou muito escura; alguns mencionam rostos alongados com grandes lábios que escondem dentes afiados; e que Vazimbas não podem tocar objetos que entraram em contato com sal, e é proibido levar carne de porco ou alho a lugares com tumbas Vazimbas.


99) Wokulo (Folclore dos Bammanas, de Mali) - Eles são espíritos com a aparência de anões com menos de um metro de altura. Tem cabeças grandes e cabelo abundante, mas são quase invisíveis, embora eu não tenha conseguido descobrir o que falta para a invisibilidade ser completa. Wokulos roubam comida das cozinhas das pessoas. Eles conseguem ver através de paredes e árvores. Também são tão fortes que conseguem arremessar um homem. Os pés são ao contrário, como no caso do Curupira. Um Wokulo pode viver por mais tempo do que uma pessoa, mas ele não é feliz porque os Wokulos são escravos do diabo chamado Dume.


100) Yumboes (Folclore Uolofes) - Os espíritos dos mortos. Eles tem cerca de sessenta centímetros de altura e tem a pele pálida. Eles formam relacionamentos com certas famílias, e, caso alguém da mesma morra, dançam no túmulo para lamentar a perda. Eles vivem no subterrâneo das colinas Paps. Os locais contam histórias de pessoas que foram recebidas nos lares magníficos dos Yumboes, em mesas ricamente adornadas, e como não era possível ver nada dos Yumboes exceto as mãos e pés. Eles roubam cereais das pessoas mas pescam por conta própria. Eles gostam de enterrar vinho de palmeira (feito com a seiva da palmeira) até que fique amargo, para então bebê-lo enquanto tocam tambores nas colinas.


101) Zangbeto (Religião Ogu de Benim, Togo e Nigéria) - Uma sociedade secreta que também serve à comunidade como uma polícia sobrenatural. Eles são os guardiões da noite, trazendo lei e ordem, encontrando ladrões e bruxos que são então apresentados à comunidade para serem punidos. Quando estão em um transe, possuem habilidades mágicas, como engolir vidro sem sofrer nada ou assustar bruxos. Eles aparentemente invocam um poder que habitava a terra antes da vinda do homem e são uma fonte de sabedoria para o povo de Benim. Eles usam uma fantasia feita de palha e uma máscara, mas quando estão assim, se acredita que não há nada sob a fantasia além de um espírito noturno.



"Há muito que permanece a ser conhecido, e sou forçada a deixar muito do que foi registrado intocado. Eu creio que o que foi dado aqui será suficiente para mostrar que a noção de África como um continente sem história, poesia, ou mitologia merecedora do nome é totalmente errôneo" 
 -Alice Werner, Mitos e Lendas dos Bantus, 1933.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Bestiário Africano - 2 de 3

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Um machado de arremesso africano. Autor: Pasgi.


Conforme prometido, após criar uma lista de criaturas de folclores e mitologias sul-americanas, apresento-lhes a lista de seres fantásticos dos folclores e mitologias africanos. Totalizando 101 criaturas, ela é dividida em três partes. Por favor, aproveite e se inspire. Parte um aqui.

Quase esqueci de dizer: esta lista foca nos folclores e mitologias da África, deixando de lado criaturas originárias do Antigo Egito ou da Árabia, como os gênios. Eu quis descobrir justamente o que é pouco conhecido.




35) Ibini Ukpabi (História da Confederação Aro, na atual Nigéria) - Um oráculo cujo nome significa “Tambor do Deus Criador”. O objeto era usado para resolver casos de assassinato, bruxaria, envenenamento e disputas familiares. Os sacerdotes do oráculo tinham o hábito de vender à escravidão quem perdesse nos julgamentos. Houve quem dissesse que os sacerdotes falsificavam os vereditos do oráculo para adquirir vítimas. Centenas de pessoas visitaram o templo; muitas não voltaram. As comunidades de origem acreditavam que o oráculo devorava quem o visitava.


36) Ilomba (Folclore Lozi, Zâmbia) - Uma serpente marítima criada por um feiticeiro. Os ingredientes são: unhas; sangue da testa, costas e peito; ervas mágicas; tudo misturado em uma panela. O resultado é jovem e deve ser alimentado com ovos e mingau para crescer. O seu propósito é matar quem o feiticeiro manda; a vítima, quando picada, vê uma cobra com o rosto do feiticeiro. Outras pessoas veem uma cobra comum. A criatura consome a alma de quem ela morde. Criá-la traz riscos: se a cobra é morta, o seu criador também morre e vice-versa. Uma Ilomba faminta é capaz de devorar o feiticeiro que a criou, mas se ele matá-la ou destruí-la, será assombrado pelas almas que a Ilomba consumiu.


37) Indombe (Folclore do Congo) - Uma cobra titânica feita de cobre, com vários quilômetros de comprimento. O seu corpo brilha vermelho devido ao calor que emite; o seu toque queima. Ela vive há inúmeros anos, podendo ter então conhecimentos que ninguém mais tem. Quando ela se enfurece, solta um rugido e gera chamas que iluminam uma floresta inteira. É curioso que o fogo dela parece queimar só o que ela quer, pois ela consegue se enrolar em árvores sem carbonizá-las. Indombe é capaz de engolir todos os habitantes de uma aldeia. Quem a matar deve devorá-la sem deixar nenhum pedaço sobrando, ou a cobra se torna um fantasma. É curioso que neste estado, ela não assombra quem a matou, mas reconhece a superioridade do vencedor e o guia até uma aldeia linda e livre de doenças onde as futuras gerações do vencedor podem viver.


38) Inifwira ou Nyuvwira (Folclore do Distrito de Chitipa, na República de Malawi) - Uma enorme serpente de oito cabeças que habita áreas ricas em minerais, especialmente aqueles usados como dinheiro. Também vive em colinas em dentro de minas. Ela pode fazer com que aviões caiam, e se você tiver um pedaço da pele dela no seu bolso, o avião onde você está não consegue partir. Ela emite alguma espécie de gás venenoso e consegue gerar eletricidade, brilhando à noite. Um método descrito para matá-la é através de uma armadilha: deve-se construir uma casa redondas cujas paredes, vistas de cima, são espiraladas como o interior de uma concha. No chão desta casa, deve-se colocar uma série de navalhas, para que a cobra entre na casa mas se corte toda quando chegar no centro da espiral e tente sair.


39) Inkanyamba (Mitologia zulu, África do Sul) - O nome que os zulus dão para o tornado, que para eles é uma divindade feminina. As suas representações são na forma de longas serpentes, porque, para os locais, um tornado se parece com uma cobra descendo dos céus para tocar a terra. Os domínios de Inkanyamba são a tempestade, água e o granizo.


40) Intulo (Folclore Zulu) - Mistura de homem e lagarto ou jacaré. Os nativos da província de Kwalulu Nata acreditam que ele é um mensageiro da morte, enviado pelo deus supremo para chamar aqueles que estão para morrer.


41) Irimu (Folclore Wachaga) - Um termo que significa "canibal", aplicado a mais de uma criatura. A primeira é um homem leopardo, que pode assumir tanto uma forma humana quanto se tornar um leopardo por completo. Uma história descreve o Irimu como tendo dez rabos. Outra diz que é possível descobrir se a pessoa é um Irimu porque ele tem uma segunda boca na nuca, escondida pelo cabelo. O outro tipo de Irimu é um homem que quebrou um tabu, e devido a isso se transformou: arbustos espinhentos brotaram do seu corpo. Ele então vagou pela região, engolindo tudo e todos que cruzavam o seu caminho. O seu irmão consultou um adivinho, que o aconselhou a incendiar os espinhos. Ele fez isto e conseguiu restaurar o Irimu à sua forma humana original.


42) Iroko (Folclore da costa oeste africana) - Esse é o nome de uma árvore que vive até quinhentos anos. Também é chamada de uloho e odum. Já os Yorubás a chamam de írókó, logo ou loko, acreditando que ela tem características sobrenaturais: ela é habitada por um espírito que, caso seja visto, causa insanidade e morte. Alguns evitam a árvore; outros lhe servem oferendas. Os Yorubás também acreditam que quem derrubar uma árvore Iroko sofre grande azar, assim como a sua família. Além disso, é dito que, em uma casa que use madeira da Iroko, é possível ouvir a voz dela, pois o espírito está preso na estrutura.


43) Isitwalangcengce (Mitologia Bantu) - Também chamado de “Monstro da cesta”. A razão é que ele tem uma cesta no lugar da cabeça, enquanto o resto do corpo é humanoide. Quando se abate um boi, as mulheres carregam cestas para receber uma parte da carne. O monstro as ataca na volta para casa, agarrando-as e colocando-nas na sua cabeça-cesta. O Isitwalangcengce então vai jogá-las no desfiladeiro mais próximo. Depois disto, ele desce lá embaixo para comer o cérebro delas.


44) Iskoki (Mitologia Maguzawa) - A religião dos Maguzawas inclui um número infinito de espíritos chamados Iskoki, o singular sendo Iska. A religião possui cerca de três mil Iskoki individuais. A tradução literal desta palavra é “ventos”. Contudo, as crenças a respeito destes espíritos se misturaram com crenças islâmicas e eles se tornaram Al-Jannu, traduzido como “gênios”. Os Iskoki estão divididos em duas categorias principais: os Gona, “espíritos da fazenda”, que são espíritos domados e de fácil manipulação; e os Daji, “espíritos selvagens”, indomados e que são difíceis de serem contatados.


45) Itowe (Folclore Ajaua) - Gnomos que, apesar de serem humanoides e terem duas pernas, andam de quatro. Eles roubam comida das hortas e fazem com que abóboras apodreçam. Se eles encostam em uma fruta ou vegetal, o mesmo fica amargo. Para impedir os Itowe de fazer tudo isso, os Ajauas colocam alguns vegetais em cruzamentos, uma forma de oferenda.


46) Izimu (Folclore Zulu) - A palavra pode ser traduzida como “canibal”, mas, para os Zulus, ela significa algo mais: seres que já foram humanos mas deixaram de ser ao adotarem o canibalismo por prazer em vez de necessidade. A aparência dos Izimu varia conforma quem conta, mas todos parecem concordar que eles podem se transformar em seres humanos, se é que já não se parecem com eles. Os Zulus e os Ambundu dizem que é possível reconhecer um Izimu pelo cabelo longo e malcuidado: algo muito óbvio para povos que, ou raspam todo o cabelo, ou o moldam em formas elaboradas.


47) Homem Branco (Oeste da África) - O explorador escocês Mungo Park encontrou um grupo de escravos em 1797, em uma cidade chamada Kamalia. Eles estavam aterrorizados, pois acreditavam que a razão de homens brancos comprarem tantos escravos era para devorá-los.


48) Kalonoro (Folclore de Madagascar) - Anões ou gnomos selvagens vivendo nas montanhas de Marojejy. Eles são descritos como sendo bizarros e/ou assustadores, mas os únicos detalhes da sua descrição é de que tem pés virados para trás e olhos brilhantes como brasa.


49) Kalunga (Folclore dos Ambundus, de Angola) - A palavra pode significar tanto “Morte”, “Rei do Submundo” ou “Rei do Mar”. O último significado tem a ver com o temor que o oceano traz aos Ambundus, especialmente quando se considera que eles viram milhares e mais milhares de africanos serem levados nos navios e nunca mais voltarem. Apesar do terror que a noção de morte traz, Kalunga não faz o que faz por prazer, mas encara como um dever a ser cumprido.


50) Kinoly (Folclore de Madagascar) - Um tipo de morto-vivo. Ele se parece com um ser humano, exceto pelas seguintes características: o estômago e intestinos apodrecem e somem, assim como a pele que os cobria, deixando um buraco no lugar; os olhos são vermelhos; as unhas são longas. Os Kinoly constantemente roubam arroz, cru ou cozido, apesar de que não parecem ter como comê-lo. Eles também arrancam os fígados das pessoas.


51) Kishi (Folclore Angolano) - Um demônio de duas faces. Visto de frente, é um homem atraente e charmoso, que atrai mulheres jovens. Mas a nuca esconde o rosto de uma hiena, com o qual ele devora a sua vítima. Este segundo rosto tem dentes longos e afiados, assim como mandíbulas tão fortes que é impossível desprendê-las de algo que tenha mordido.


52) Khodumoduno (Lenda dos Sutos) - Este ser também é chamado Kanmapa. Certa vez, uma coisa disforme e gigantesca surgiu na região, engolindo todas as pessoas e animais no caminho. Uma mulher conseguiu se camuflar e escapar do monstro. Ela estava grávida e logo deu à luz. Ela foi buscar por uma cama para o bebê, mas quando volou, encontrou um homem adulto com duas ou três lanças na mão e um cordão de ossos usados para adivinhação em volta do pescoço. Ele disse que era o seu filho e perguntou onde estavam as pessoas, o gado e os cães. Após lhe contar, ela o levou até a entrada do vale, onde Khodumoduno havia ficado preso. Ele já estava tão imenso quanto uma montanha. O bebê crescido, chamado Ditaolane, conseguiu usar de sua agilidade para evitar ser engolido pelo monstro, enquanto o perfurava com as suas lanças. Ele conseguiu matar o monstro e ainda por cima, usou uma faca para abri-lo e libertar todos os seres que foram engolidos. Ditaolane foi celebrado, recebendo tantos presentes na forma de gado que logo tinha um grande rebanho. Ele também adquiriu diversas esposas e até construiu o seu próprio kraal (um tipo de aldeia africana). E assim tudo ficou bem, por um tempo.


53) Kongamato (Folclore kiiKaonde) - O nome significa “Aquele que sobrepuja os barcos”, pois a criatura tem o poder de fazer com que as águas de um rio parem de fluir, subitamente aumentando a água em um vau e portanto afogando quem tenta passar, tanto a pé quanto de barco. Ele é descrito como uma espécie de “lagarto com as asas membranosas de um morcego”, o que faz alguns pensarem nele como um pterodáctilo. A sua cor é vermelha e a envergadura das asas é de entre um metro e vinte a dois metros. O bico tem dentes. Os nativos dizem que muitas poucas pessoas sobrevivem a um encontro com um Kongamato. Também ressaltam que ele é invulnerável, comendo quaisquer projéteis disparados contra o mesmo. Devido ao fato de que ninguém jamais encontrou a carcaça de um Kongamato, os nativos acham que ele é imortal. Eles não o consideram algo sobrenatural, mas algo semelhante a um leão comedor de homens ou um elefante furioso, embora muito pior. Há quem acredite que, caso um barco fique parado na água, não importando o que o remador faça, é porque um Kongamato o está segurando por baixo. Também se fala que o monstro come apenas os dedinhos dos pés e das mãos, os lóbulos das orelhas e as narinas da vítima.


54) Kumpo (Mitologia Diola) - Cada aldeia realiza diversos festivais ao longo do ano. O Kumpo é uma pessoa vestida em folhas de palmeira e com uma bandeira em um galho na cabeça. Ele dança por horas e fala um idioma secreto, comunicando-se com a audiência através de um intérprete. O seu papel é encorajar a comunidade a agir pelo bem de todos. Também deseja que todos se alegrem durante o festival. Não participar do festival é visto como um comportamento antissocial. Ser solitário não é um direito entre os Diolas, todos apreciam a música e dançam. Não se deve saber a verdadeira identidade do Kumpo. Aliás, ele é considerado um fantasma, não uma pessoa. É tabu encostar nele, ou até mesmo nas folhas de palmeira que o cobre. Ao final da festa, ele dá adeus a todos e se refugia no bosque sagrado local.

55) Linkalankala (Folclore do povo Barotse, atual Zâmbia) - Familiar de um feiticeiro ou bruxo. Composto de um casco de tartaruga preenchido por uma mistura de raízes carbonizadas e gordura. Nesta mistura se prende uma adaga ou faca, com a lâmina saindo de onde ficaria a cabeça da tartaruga. O familiar se move à noite para apunhalar a pessoa indicada pelo bruxo. Às vezes, o Linkalankala apenas aponta a lâmina na direção da sua vítima, enfeitiçando-a em vez de matá-la.


56) Lukwata (Folclore Baganda) - Significa "serpente aquática". A criatura supostamente viveria no lago Vitória. O seu comprimento seria entre seis e nove metros. A pele seria negra e macia, enquanto a cabeça seria arredondada. O monstro atacaria pescadores e barcos. Partes do Lukwata teriam poder mágico e poderiam ser usadas como relíquias no leste da África.


57) Maithoachiana (Folclore Quicuio) - Anões canibais. Eles são ricos, ferozes, sensíveis em relação à própria altura, ferreiros habilidosos, vivem em cavernas e usam lanças. 


58) Mangabangabana (Folclore Baronga) - Um povo fantástico que tem só uma perna e asas. Alguns os consideram um tipo de meio-homem, visto abaixo.


59) Mbirhlen’nda (Folclore Nigeriano) - Um espírito que habita um fetiche, geralmente dentro de um altar ou templo. O seu papel é proteger a comunidade local contra a força destrutiva chamada Shuuta, que age contra pessoas que cometem maldades. Shuuta é como um furacão, gerando ventos que destroem tudo no caminho. Mas esta força também atinge pessoas que não fizeram nada de errado, então os fetiches contendo Mbirhlen'nda são necessários. Para garantir a sua proteção, as pessoas fazem oferendas frequentes aos fetiches.


60) Mbulu (Folclore Xhosa e Zulu) - Um demônio quase idêntico a uma pessoa. O que o distingue é um rabo muito longo cuja ponta tem uma boca com dentes afiados. Este rabo tem uma vontade própria e é guloso, sendo capaz de caçar e comer coisas como ratos, o que pode às vezes atrapalhar os planos do Mbulu.


61) Mdi Msumu (Folclore Wachaga) - Uma árvore misteriosa. Certa vez, uma garotinha chamada Kichalundu caiu em um buraco. Os seus companheiros não conseguiam puxá-la de volta, e ela desapareceu. Eles escutaram ela cantando, "Os fantasmas me levaram. Vão e contem para o meu pai e a minha mãe". Todo o povo local se reuniu ao redor do buraco, e, apesar dos conselhos de um adivinho e um sacrifício, não conseguiram resgatá-la. Mas onde ela desapareceu, uma árvore surgiu, tão alta que alcançava os céus. Os garotos cuidando do rebanho descansavam na sombra desta árvore. Certo dia, dois deles resolveram subir nela para alcançar “Wuhu, o Mundo Acima”. Desde então, a árvore foi chamada Mdi Msumu, que significa algo como "Árvore da(s) História(s)".


62) Meio-Homem (Folclore Zulu e outros) - Existe um tipo de criatura recorrente em diversos povos africanos, os “meio-homens”. Existem variações regionais, mas o básico é que são como humanos, mas tem apenas um olho, um braço e uma perna. Alguns dos seres chamados Amazimu são assim. Há o caso do Chiruwi, presentes na parte um da lista. Outros seres semelhantes são os canibais Amadhlungundhlebes; e o Sechobochobo do folclore Baila, um tipo de duende da floresta que traz boa sorte a aqueles que o veem. Ele também ensina pessoas sobre quais plantas são medicinais.


63) Migas (Folclore do Congo) - Um monstro vivendo nos rios. Achatado, gigantesco e com tentáculos longos. Qualquer um ou qualquer coisa que chegasse muito perto era agarrada pelos tentáculos e levada ao seu lar submerso, para ser devorada.


64) Mokéle-mbêmbe (Folclore do Congo) - Um monstro temido pelos nativos. Existe mais de um, e eles habitam os rios maiores, como o Ubangi, Sanga e Ikelemba. Mokéle é descrito da seguinte forma: pele sem rugas e de uma cor marrom-acinzentada; do tamanho de um elefante; pescoço longo e flexível; um único dente, ou chifre, muito longo; um longo rabo musculoso. Foi dito que canoas que cheguem muito perto são atacadas, os ocupantes mortos, mas a criatura não come os corpos, pois é um herbívoro. Vive me cavernas escavadas pelas correntezas nas margens argilosas dos rios. É um ser famoso na criptozoologia, uma pseudociência que busca criaturas desconhecidas como o Pé Grande. Muitos criptozoologistas acreditam que seja uma espécie de dinossauro.


65) Moselantja (Folclore de Botsuana) - Humanoide, mas é coberto de escamas, tem olhos pequenos e malvados, e um rabo muito longo que termina em uma boca com dentes afiados. Ele se aproxima silenciosamente de pessoas que estão sozinhas e próximas do rio, até ficar próximo o suficiente para respirar fundo no pescoço da vítima. Aí ele começa a sussurrar mentiras no ouvido dela. Se a pessoa olhar para o Moselantja, ele não vai embora até conseguir o que quer. Isto pode ser um favor, joias, roupas ou outros objetos. Ele usa de bajulação e medo para manipular a vítima. Este monstro é guloso, devorando toda a comida que conseguir, usando o rabo para procurar o que estiver escondido ou até pescar caranguejos.


66) Mpakafo (Folclore Betsileo de Madagascar) - Um tipo de vampiro que arranca e devora o coração e fígado de quem ele ataca. Os Mpakafos são altos e de pele branca, então pessoas brancas e altas, como o antropologista Conrad Kottak, já foram confundidas com estes vampiros.


67) Mukunga M’bura (Folclore Quicuio) - Para este povo, o arco-íris é um monstro aquático, que sai da água à noite para devorar gado.



Parte três aqui.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Bestiário Africano - 1 de 3

Imagem do RPG Spears of the Dawn, liberada no domínio público.







Conforme prometido, após criar uma lista de criaturas de folclores e mitologias sul-americanas, apresento-lhes a lista de seres fantásticos dos folclores e mitologias africanos. Totalizando 101 criaturas, ela é dividida em três partes. Por favor, aproveite e se inspire.

Quase esqueci de dizer: esta lista foca nos folclores e mitologias da África, deixando de lado criaturas originárias do Antigo Egito ou da Árabia, como os gênios. Eu quis descobrir justamente o que é pouco conhecido.


1) Abambo (Oeste da África) - O termo em plural para “fantasmas”. O singular é Ibambo. Não se sabe de onde eles vem ou porque se tornam visíveis em certos momentos. É entendido que são as almas dos mortos. Não são bons ou maus, mas eles vem sem serem convocados, ocasionalmente possuindo pessoas.


2) Abatwa (Folclore Zulu) - Um povo tão diminuto que é encoberto pela grama e dorme em formigueiros. Eles são nômades, parando apenas para comer o que eles caçaram. Eles odeiam ser do tamanho que são, chegando a matar pessoas com os seus arcos se eles entendem que as mesmas ressaltam esse fato. O singular de Abatwa é Umutwa. O modo correto de cumprimentar um Umutwa quando ele pergunta “Quando você me viu?” é “Eu te vi quando estava longe”. Isto agrada o Umutwa, que responde “Então eu fiquei grande”. Os Abatwa fazem jornadas para mudar as suas regiões de caça, o grupo inteiro montando em um cavalo, do pescoço ao rabo. Se eles não encontrarem comida, eles comem o cavalo. Os Abatwa são poderosos à sua maneira, pois a grama os esconde de tal forma que eles podem “picar” um homem até a morte com as suas flechas envenenadas sem serem vistos. O veneno que eles usam é um anticoagulante, que faz com que a pessoa sangre até a morte.


3) Adroanzi (Mitologia Lugbara) - Uma raça de criaturas que se parecem com cobras, mas são na verdade a prole do espírito maligno Adro. Os Adroanzi caçam à noite, na forma de pessoas, atacando e devorando humanos. Eles se aproximam pelas costas da vítima, atacando assim que a mesma olhar para trás. Mas se o alvo seguir em frente sem medo, ele não é atacado.


4) Adze (Folclore Ewés) - Um vampiro que pode se transformar em um vagalume. Caso capturado nesta forma, ele reassume a forma humana. A forma de vaga-lume é usada para passar por espaços pequenos e entrar em casas, para sugar sangue de quem está dormindo. Isto causa doença e até morte na vítima. Na forma humana, o Adze pode possuir uma pessoa. A mesma será considerada uma bruxa, porque a possessão traz má sorte às pessoas que convivem com a pessoa que foi possuída.


5) Arro (Folclore dos Dilings e Nubas) - Bail, deus supremo destes dois povos, encarregava os Arro, espíritos dos mortos, de guiar e ajudar os humanos. Eles davam conselhos aos chefes, agiam como guardiões e recompensavam ou puniam humanos de acordo com as suas ações. Ou seja, pode-se pensar nos Arro como uma mescla de anjo e ancestral.


6) Árvore Canibal de Madagascar (Folclore de Madagascar) - Como o nome indica, trata-se de uma planta carnívora grande o suficiente para devorar pessoas. Ela se distingue das demais criaturas da lista em que foi inventada por um homem branco para um jornal em 1874. No artigo original, é dito que a árvore recebe sacrifícios de uma “tribo Mkodo”, igualmente fictícia. A planta é descrita como tendo o formato de um abacaxi de mais de dois metros de altura. O tronco é marrom e tão duro quanto ferro. Saindo do topo do tronco e descendo até o chão, as folhas têm quase quatro metros de comprimento em meio metro de largura. Elas são cobertas de ganchos afiados. Uma espécie de grande flor branca no meio das folhas guarda um líquido doce, intoxicante e que causa sono. Esta “flor” também tem seis palpos semitransparentes e brancos, com quase dois metros de comprimento e em movimento constante. Entre a “flor” e as folhas, saem muitas gavinhas peludas verdes, cada um com cerca de dois metros de comprimento. Quando uma vítima é colocada acima do tronco, os palpos se enroscam nos braços e pescoço. Em seguida, as gavinhas se enrolam ao redor da pessoa, seguidas pelas folhas. A refeição desta árvore assassina é então comprimida como se por uma prensa hidráulica. Enquanto se alimenta, a árvore gera o líquido doce, que é coletado pelos nativos que colocaram a vítima ali, como uma espécie de recompensa narcótica e talvez viciante. As folhas e gavinhas se abrem dez dias depois, restando apenas um crânio branco.


7) Arwe (Folclore Etíope) - Uma serpente que governava a região agora chamada de Etiópia. Ela era longa como um rio, e os seus dentes eram grandes como o braço de um homem. Gulosa, comia plantações, gado e pessoas. Caso as pessoas se recusassem a alimentá-la, ela se contorcia, causando terremotos. Ela foi morta por um estrangeiro que conseguiu envenená-la. Agradecidos, os locais pediram que ele ficasse e governasse eles, o que ele aceitou. Quando envelheceu, este senhor pediu que as pessoas aceitassem a liderança de sua filha, Makeda, que se tornou a Rainha de Sheba.


8) Asamanukpai (Folclore da Costa do Ouro) - Anões com os pés voltados para trás. Eles podem ser brancos, negros ou vermelhos. Os anões mais velhos são maiores e barbudos. Os Asamanukpai gostam de comer e dançar em rochedos de pedra polida. Se você entrar no território deles, deve acalmá-los com oferendas de rum. Caso contrário, será apedrejado ou guiado até as profundezas da floresta, perdendo o caminho de volta. Às vezes, os Asamanukpai são amigáveis com alguém, ensinando o que sabem a esta pessoa. Eles também esfregam o suco de uma planta nos olhos, ouvidos e boca da sua nova amizade, tornando-as capaz de ouvir e ver pensamentos, prever o futuro, assim como falar e cantar com os anões. Tal pessoa se torna um “Gbalo”, um tipo de adivinho e sábio.


9) Asanbosam (Folclore dos Acãs) - Um tipo de vampiro. É descrito como tendo dentes de ferro, pele rosada, ganchos de ferro no lugar de pés, cabelo longo e vermelho. Ele vive nas árvores, emboscando pessoas do alto.


10) Asiman (Folclore Daomé) - Uma bruxa vampira. Ela ganha os seus poderes ao conjurar uma magia específica, deixando de ser humana. A Asiman é capaz de remover a própria pele e se tornar uma presença luminosa voadora que se parece com a chama de uma vela. Nesta forma, ela observa do céu por uma vítima. Após se alimentar, ela se torna capaz de se transformar em um animal. E é apenas na forma animal que é possível destruir uma Asiman.


11) Awiri (Oeste da África) - Um tipo de espírito guardião. O singular é Ombwiri. Quase todas as pessoas têm o seu próprio Ombwiri, que vive em uma pequena casa construída próxima à casa da respectiva pessoa. Toda a boa sorte desta pessoa vem do seu Ombwiri: todos os problemas que evitou e todas as boas coisas que conseguiu. Awiri também são responsáveis por tudo que é maravilhoso ou misterioso: relevos geográficos distintos, fenômenos celestiais e até eventos extraordinários que afetam a vida das pessoas. Não existem sacerdotes que sirvam de intermediários entre as pessoas e os Awiri. O Ombwiri deve ser respeitado e até temido, mas ele não é um espírito maligno. Entende-se que todos os Awiri são ou descendem das almas dos mortos. E que os Awiri mais dispostos a colaborar e ajudar uma pessoa são aqueles que foram os ancestrais da mesma. E a maior ajuda que trazem é uma que muitos africanos desejam acima de qualquer outra coisa: filhos e filhas. Quando Awiri surgem, pode-se ver que são brancos, não importa a raça que fossem em vida. Pessoas brancas eram consideradas Awiri por alguns nativos. Awiri geralmente vivem na região da sua tribo de origem. Caso a mesma seja extinta ou mude de lugar, os Awiri ficam e aceitam se afiliar a novas pessoas que venham a morar na região vazia. Awiri ficam inativos na estação de frio seco, que corresponde de maio a setembro no oeste equatorial da África. Neste período, são pequenos e quase sem vida. Pode-se pensar nisto como uma espécie de hibernação. Existe quem pense nos Awiri como um equivalente africano das fadas europeias.


12) Aziza (Folclore Yorubá e Jeje) - Esta divindade e/ou espírito da selva também é chamado de Aroni. Ela é descrita como um homem pequeno, de uma perna só, que fuma um cachimbo feito de uma concha. Um dos mitos a seu respeito conta que ele roubou o fogo dos céus e o deu aos humanos. Ele também sabe muitas coisas sobre cura e ervas medicinais, podendo ensinar isto às pessoas. Há quem acredite que o Saci é uma variante deste mito no Brasil, trazido pelos escravos vindos da África.

Para evitar confusões, devo esclarecer que existe um outro tipo de criatura chamada "Aziza". Neste caso, são semelhantes às fadas européias. Estes seres vivem nas profundezas das florestas e costumam serem benignos, por exemplo, ajudando caçadores e trazendo boa sorte a quem os invocasse.


13) Badimo (Folclore dos Tswanas) - Os Badimo são os espíritos dos mortos, e são hostis aos vivos, agindo mais como diabos: desfazendo o que o Deus Supremo fazia, deturpando os Seus propósitos e convencendo humanos a se afastar Dele.


14) Balungwana (Folclore Baronga) - Seres pequeninos, às vezes chamados de anões. Parece que o singular é mulungwana. É dito que eles vem do céu quando chove. Quando as pessoas ouvem o trovão, dizem: “os balungwana estão brincando lá em cima.” Durante a praga de gafanhotos de 1894, um homem e uma mulher pequeninos supostamente surgiram anunciando a praga e dizendo: “não matem os gafanhotos; eles nos pertencem.” Um mulungwana também surgiu em um morro em 1862, logo antes de começar uma guerra entre dois chefes.


15) Bida (Folclore Soninquês) - Um dragão em forma de uma enorme serpente. Ele exige sacrifícios na forma de donzelas para fazer chover ouro sobre a cidade chamada Wagadu. Bida vive em um poço profundo ao lado da cidade. Um herói chamado Mamadi Sefe Dekote conseguiu decapitar o dragão. A cabeça ainda falou, amaldiçoando a cidade a ficar sem ouro por sete anos, sete meses e sete dias. A cabeça pousou em uma região ao sul, que se tornou famosa pelo ouro que vinha de lá. Bida era descrita como a cobra dourada, mas não é claro se isso se refere à aparência ou à fortuna que trazia.


16) Boio (Folclore da Zâmbia) - Em um lugar chamado Chilunga, norte de Loango, existia um fetiche chamado Boio, que governava a região através de uma princesa que lhe servia de representante. Boio vive na terra; as pessoas ouviam a sua voz quando passavam por perto do altar dedicado a ele. Oferendas eram postas ali, desaparecendo em seguida. O espírito dentro do fetiche, também chamado Boio, tinha, além da voz humana, a voz de um pássaro. Certa vez, dois homens estavam carregando um pau como se houvesse uma maca suspensa nele, mas não havia nada. Alguns passantes riram disto. Em seguida foram feitos prisioneiros por mãos invisíveis, soltos apenas após um pagamento ser feito à princesa. O fato é que havia uma maca suspensa, carregando o fetiche, mas ambos eram invisíveis. Apenas duas pessoas têm o poder de enxergar Boio, dentro de seu lar subterrâneo: as mesmas que lhe trazem comida.


17) Bouda (Folclore Etíope) - Etíopes acreditam que ferreiros são feiticeiros capazes de se transformar em hienas. Há quem diga que esses “homens-hienas” abrem covas de cemitérios à meia-noite e roubam os corpos. Muitos nativos olham para ferreiros de forma suspeita. Aproveito isto para dizer duas coisas sobre hienas: as suas mordidas são capazes de quebrar e moer ossos, e os seus potentes ácidos estomacais conseguem digerir os ossos devorados.


18) Bulgu (Folclore Guji Oromo, Etiópia) - Um grande ogre canibal com quatro olhos em uma cabeça na forma de uma lâmina de machado. Ele conhece fórmulas mágicas verbais que destroem muros.


19) Camaleão (Folclore de Burkina Faso) - Um símbolo associado a mudanças e à transformação de uma pessoa à forma de um espírito. Além disso, camaleões são vistos de maneira suspeita, devido à sua capacidade de mudar de cor e olhar em duas direções ao mesmo tempo. Camaleões apareciam em máscaras, amuletos e altares, servindo como espíritos protetores ou para aumentar o poder do usuário, combater formas sobrenaturais de doenças e encantamentos, até servindo para contrapor os efeitos das fases da lua.

Nas tradições dos Yorubás, o camaleão Agemo é intermediário e mensageiro entre o deus supremo e outras divindades ou humanos. Certa vez, ele ajudou o deus supremo, Olorun, a vencer uma competição contra Olokun, deusa do mar. Ela acreditava ser a melhor tecelã e tintureira de roupas, melhor até mesmo do que Olorun. Ela o desafiou a uma competição de tecelagem e tinturaria. Ele pediu que ela apresentasse amostras da sua habilidade. Mas cada tecido que ela mostrava tinha os padrões e cores repetidos perfeitamente por Agemo. Olokun declarou a própria derrota, pois se um mero mensageiro podia duplicar o que ela produzia, Olorun seria ainda mais habilidoso.


20) Cedro do Fim (Mito da Criação do Mundo do Quênia) - Abaixo de Seu trono, Deus criou uma árvore gigantesca. Ela tem milhões (ou talvez bilhões) de folhas. Em cada uma delas, há um nome escrito por Deus, pois Ele conhece cada um de nós pelo nome. Quando Ele desejar, uma folha cai. Antes que a mesma atinja o chão, um anjo a pega e lê o nome para o Anjo da Morte, chamado Ndulo Mtwaa-roho, “Aquele que Toma Almas”. O mesmo então desce para separar a alma do corpo daquele que tem o nome que foi lido. 


21) Chamma (Folclore do Congo) - O nome significa "arco-íris". Esta é uma cobra gigante que entra nas fontes dos rios e os faz inchar, criando enchentes que carregam gramas, árvores e aldeias inteiras na direção do mar. 


22) Chemosit (Folclore Nandi) - Um demônio canibal que vive debaixo da terra. Metade homem, metade pássaro, ele tem uma perna e usa como muleta um bastão em forma de lança. A boca vermelha brilha à noite como se fosse uma lamparina. Ah, e ele tem nove nádegas. Sim, nove. Ele prefere devorar crianças, atraindo-as com canções à noite. A criança, ouvindo a música e vendo a luz saindo da boca do monstro, acha que está acontecendo uma dança ao redor da fogueira e vai na direção dela. 


23) Chipfalamfula (Folclore Moçambicano) - Um peixe enorme, com o poder de controlar um rio. Ele é capaz de fazer o curso d'água seguir por baixo da terra ou causar enchentes. Mas ele costuma salvar pessoas se afogando e sempre ajuda crianças com problemas. 


24) Chiruwi (Folclore de Maláui) - Uma criatura que assombra a floresta. Ele tem um braço, uma perna e um olho; a outra metade do corpo é feita de cera. Também carrega um machado. Quando encontra um homem, o desafia a uma luta desarmada. Se a pessoa vence, o Chiruwi ensina-a a criar substâncias sobrenaturais, assim como as propriedades medicinais de ervas e árvores. Mas se a pessoa perder, ela morre. 


25) Dingonek (Folclore do lago Vitória) - Um monstro descrito como tendo quatro metros de comprimento; cabeça grande como a de um leão mas com a anatomia e pintas de um leopardo; dois dentes grandes e brancos, como os de um tigre dentes-de-sabre; escamas como as de um tatu; colorido e pintado como um leopardo; um rabo longo e achatado, próprio para nadar; as patas deixam pegadas largas como as de um hipopótamo, mas com as garras de um réptil. O caçador que o viu, John Alfred Jordan, disparou com o seu rifle calibre .303 a nove metros de distância na cabeça, mas só fez a criatura sair da água. Jordan escapou e a procurou depois, mas sem sorte. Os locais adoravam uma serpente ou réptil que diziam trazer boas colheitas e aumento das manadas de gado, mas não fica claro se é a mesma criatura.


26) Dhegdheer (Folclore da Somália) - O nome significa "que tem orelhas longas". Esta é uma demônia canibal que caçava crianças perdidas na floresta. 


27) Eloko; plural é Biloko (Folclore dos Mongo-Nkundo, que vivem às margens do rio Congo, na África Central) - Anões que podem ser os espíritos dos ancestrais ou de mortos que ainda tem questões a acertar com os vivos. Vivem nas profundezas da selva, onde a mata chega a ser escura de tão fechada. Os seus tesouros são as frutas e animais da floresta. Caçadores precisam de magia poderosa para adentrar e sobreviver nas regiões dominadas pelos Biloko, ou correm risco de morrer de fome por nunca achar nada para comer. Os anões vivem em árvores ocas e se vestem apenas com folhas. Eles tem grama crescendo no corpo, no lugar de pelos e cabelos. Possuem focinhos com bocas que podem se esticar até ficarem grandes o suficiente para engolir um homem. Possuem garras longas. Biloko usam sinos que enfeitiçam quem passar por perto, a menos que a pessoa carregue um amuleto ou fetiche que impeça isto. Eles “cheiram como a floresta”, as suas vozes soam como a de uma criança. E como se não bastasse, devoram pessoas. 


28) Emere (Folclore Yorubá) - Uma criança que consegue viajar entre o mundo físico e o espiritual à vontade. O termo tem uma conotação negativa, porque significa que o filho ou filha de uma família constantemente desaparece e reaparece. Uma Emere é impaciente, querendo o que tem de melhor na Terra e no Céu. Ela é, na verdade, um espírito disfarçado que confundiu vida e morte. Acredita-se que Emeres são mais poderosas do que bruxos. Elas costumam morrer de pura felicidade: quando se casam; quando tem filhos; quando se formam na universidade etc. Emeres também são lindas e sedutoras, e costumam ser mulheres. 


29) Fanany (Folclore de Madagascar) - Semelhante à hidra grega, esta criatura é uma serpente com sete cabeças, cada uma com um chifre.


30) Fandrefiala (Folclore de Madagascar) - Uma cobra que caça do topo das árvores. Quando um animal ou pessoa passa por baixo, a Fandrefiala se arremessa como se fosse uma azagaia, a ponta do rabo apontando na direção da presa. Não me ficou claro se a ponta do rabo é afiada, mas gosto de pensar que sim. A cobra é descrita como sendo amarela ou marrom, enquanto a ponta do rabo é vermelha. A dica para saber se uma Fandrefiala está prestes a atacar é que três ou sete folhas caem da árvore. A criatura as faz cair para avaliar a sua trajetória. 


31) Funkwe (Folclore Lamba) - É dito que esta criatura é uma serpente cujo corpo é tão longo, que vai da fonte do rio Kafulafuta até a junção com o rio Kafue. Isto dá cento e vinte e oito quilômetros! A ponta do rabo é como de um peixe, tendo uma barbatana. Os Funkwes vivem em um fosso abaixo da fonte do rio e saem quando querem comer peixes. Existe uma história de um Funkwe que se transformou em um humano e se casou com uma mulher. 


32) Ga-Gorib (Folclore da África do Sul) - Um grande monstro assassino com um truque. Ele ficava sentado à beira de um grande fosso e segurava uma pedra na testa. Ele desafiava os passantes a pegar a pedra e jogar nele. Quando eles faziam isto, a pedra ricocheteava e matava quem a atirou. Ga-Gorib foi morto pelo herói legendário Heitsi-Heib, que distraiu a criatura, acertou-a atrás da orelha e a jogou dentro do próprio fosso.


33) Gor o Trovejante (Folclore da África Central) - Um elefante mítico que serve de mensageiro do deus supremo dos pigmeus, Khonvoum.


34) Groot Slang (Folclore Khoikhoi) - Peço desculpas se este texto desapontar alguém. A versão mais popular desta criatura diz que ela é uma fusão de serpente e elefante. Diversos sites e imagens a mostram desta forma. Eu mesmo a mostrei assim quando escrevi sobre fantasia africana.

Contudo, para esta lista, fui pesquisar mais a fundo. E não achei nada disto. O que achei foi o seguinte: esta criatura é uma imensa serpente do folclore dos Khoikhoi, mas a documentação escrita vem de caçadores e exploradores europeus. Ela vive em uma caverna chamada “Buraco Maravilhoso” ou “Fenda sem Fundo”, cheia de diamantes, que estaria ligada ao oceano, a dezenas de quilômetros de distância. A entrada dela estaria em uma grande rocha no meio do rio Orange, que seria frequentado pela criatura. A mesma teria diamantes no lugar de olhos e emanaria uma aura maligna, sentida por todos que a veem. Pessoas que clamam ter visto Groot Slang dão detalhes de que ela teria cerca de quinze metros de comprimento, e que haveria não apenas uma, mas duas. E os locais parecem acreditar que a criatura é, na verdade, um espírito em forma de serpente, guardião da caverna e seus diamantes.

Isto significa que os desenhos, vídeos e textos estão errados? Não acho. Embora esteja muito longe de ser uma autoridade no assunto, para mim, folclore que é folclore evolui com o tempo. Esta capacidade de mudar é inclusive parte do que acho interessante sobre ele. Mesmo a “clássica” mitologia grega tem versões alternativas de eventos, personagens e monstros. O errado é congelar o mito, lenda ou historia em uma só versão, impossível de ser alterada.



Parte dois aqui.