Vermelha como sangue, ela veio das Terras Inquietas em um ritmo lento. Às vezes ela para e estende pseudópodes de gelo rubro, como se procurasse algo pelo tato. A sua forma muda ao cobrir rios, planícies e vales em uma jornada de destino desconhecido. Basta uma piscada para que um declive torne-se um precipício, duas para que surja uma avalanche que absorve árvores, pedras e aldeias abandonadas.
O próprio Diveus interveio com um bombardeio de luz escaldante em 1408 P.I., derretendo porções e criando rios de sangue fétido e maldito. Desde então, a Geleira permaneceu onde está, como se estivesse adormecida, ferida ou até aguardando por algo. Fortalezas nortenhas e grouras vigiam o horizonte coagulado da Geleira, enquanto estudiosos e aventureiros se aproximam para tentar compreender o que ela é. O próprio ar ao redor é tão seco que a respiração é difícil, os pulmões doem conforme a umidade lhes é roubada. Alguns já foram vítimas de súbitas correntes de ar que os congelaram a ponto de transformá-los em estátuas de gelo. Outros sofreram com tempestades de granizo em forma de dentes. Nevascas próximas fazem surgir flocos de neve afiados que sugam o sangue de quem se aproxima, criando manchas anêmicas na pele. Os flocos empapados com sangue formam enxames que voam para a geleira, deixando-se absorver como se a alimentassem. A Geleira está sempre faminta por água e outros fluidos que possa congelar e usar para crescer.
Os sobreviventes dizem que a Geleira parece estar viva de alguma forma, que os sons das rachaduras no gelo parecem as palavras de algum deus adormecido. Uns poucos que foram mais longe falam que há uma imensa forma sob o gelo, como se a Geleira fosse apenas uma crosta. Se ela prende ou protege, não sabemos ainda. Sete adivinhos imperiais foram usados para tentar prever algo a respeito da Geleira, todos acabaram em hospícios com olhos cegos ao ficarem secos e murchos.
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